Autoconhecimento como problema

Autoconhecimento: sem essa chave-mestra, não podemos nos desenvolver de modo pleno. Mas… ao conhecer sua essência e suas potencialidades, você aceitaria uma vida em que não pudesse exercê-las plenamente?

Autoconhecimento é a palavra-chave. Difícil de ser alcançado, é verdade, devido ao “atropelo” que se tornou viver – muitos não têm tempo para olhar dentro de si e conhecer seus recursos e limites, empoderar-se de seus pontos fortes e também de suas vulnerabilidades (e por que não delas, também? Afinal, elas nos fazem humanas e humanos, únicas e únicos – e explicitá-las nos confere autenticidade, cria oportunidades de superá-las e aprender com isso).

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Conhecer a si mesma ou a si mesmo ficou difícil, porque, desde a tenra idade, muitos e muitas de nós nos encontramos em um emaranhado de estímulos, informações, atividades. Desempenhamos múltiplos papéis em múltiplos cenários sociais e é tudo muito plural e veloz. Ainda que nesse universo multi seja possível, também, deixar fluir nossa multipotencialidade, exercendo não uma, mas muitas (ou todas) de nossas competências e habilidades, sem autoconhecimento nos falta uma “chave-mestra”, que nos permita um desenvolvimento pleno.

Muitos caminhos levam a Roma: como o autoconhecimento atua?

Autoconhecimento: você sabe qual é a sua essência?

Nesse cenário, ele é aquilo que dá coesão a esse universo multi, a referência do que devemos fazer diante de tantas possibilidades – e que nos faz bem. Se nos conhecemos, somos capazes de enxergar caminhos, pontos passíveis de mudança, crescimento. Ele nos conduz à nossa essência, que norteia nossas decisões, escolhas, ações. As questões que faríamos a alguém que aparentemente já a alcançou deveriam ser: Você sabe qual é a sua essência? E como chegou até ela?

Para responder à primeira pergunta, no caminho de autoconhecer-se, também há muitas possibilidades. Há quem encontre a resposta em sua própria religiosidade. Há quem se entregue a uma intensa pesquisa repleta de experimentações, quem faça do Outro o seu referencial. Há, ainda, quem medite, ou quem se entregue ao divã do analista ou busque alguma outra forma de psicoterapia. A escolha de uma dessas trajetórias, obviamente, responde à segunda pergunta – e diz muito sobre nós.

O autoconhecimento começa, na verdade, ao primeiro sinal de bem-estar diante de alguma das opções para conduzi-lo. Cada uma delas mostra o tipo de vida que priorizamos – de virtudes, realizações, reflexões, contemplações, entre outras. A busca pelo autoconhecimento é, também, a própria vida pulsando e em curso. E não existe certo ou errado – tudo leva à Roma, como se costuma dizer. O importante é o “pé na estrada”.

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Forças norteadoras do autoconhecimento

No campo da psicoterapia e do desenvolvimento humano, a Psicologia Positiva pode ser uma ferramenta de autoconhecimento, uma “rodovia” pautada em estudos científicos sobre plenitude e felicidade humanas. A nossa essência, segundo esse movimento, é tratada como algo que não só nos define como indivíduos, mas também é aquilo que de melhor temos a oferecer ao mundo.

O Coaching Positivo (baseado em Psicologia Positiva), por exemplo, trabalha em seus planos de ações a aplicação de algo que foi cunhado pelo pesquisador e psicólogo norte-americano Martin Seligman e colegas como forças pessoais. Elas estão presentes em todas e todos nós (seriam 24) e têm a ver com virtudes universais, encontradas e valorizadas nas mais diversas culturas e filosofias orientais e ocidentais, tais como Sabedoria e Conhecimento, Coragem, Humanidade, Justiça, Temperança, Transcendência. As forças mais evidentes são nossa assinatura pessoal (conheça suas forças principais por meio deste link) e compõem nossa essência.

Ao praticar nossas forças pessoais, nós fortalecemos/consolidamos:

– nossa noção de identidade [o indivíduo sente-se autêntico ou autêntica, sente-se ela mesma ou ele mesmo, torna-se inevitável e natural utilizá-las],
– nossas emoções positivas, aumentando a percepção de bem-estar em nossas vidas
– o engajamento com a ação ou atividade em que nós as exercemos [imagine só o poder de uma profissão que favorece o uso desses recursos, uma vez que facilmente trabalhamos 10 horas ou mais, por dia…],
– nossos aprendizados.

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Utilizar essas forças no dia a dia ainda faz com que nos sintamos gratificados, gratificadas, fortalecidos ou fortalecidas. Esses elementos também são trabalhados na psicoterapia positiva.

A vida que vale a pena ser vivida

A leitura até aqui não é a defesa de que a Psicologia Positiva seja a melhor vertente do autoconhecimento. Mas, ao ver tudo aquilo que provoca o exercício de nossas forças pessoais, é impossível não recairmos na reflexão a seguir – e que pode ser o pontapé para um hiperfoco, daqui por diante, em autoconhecer-se e ser feliz.

Conhecendo nossas forças pessoais e nossa essência, seríamos capazes, ainda assim, de aceitar um projeto de vida em que elas não possam ser exercidas em sua plenitude, seja em nossos relacionamentos, profissão, seja em nossos empreendimentos? Precisamos avaliar.

O fato de não conhecermos nossa essência não nos coloca, assim, diante do fato de que podemos estar vivendo uma vida que não escolhemos e que não corresponde às nossas expectativas?

Deixo à leitora e ao leitor a dúvida final.

Jussara Goyano é jornalista, empreendedora e coach certificada pelo Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento. Seu currículo inclui formações e atualizações ministradas por instituições como Unifesp, FGV e Instituto Brasileiro de Coaching. Possui mais de 10 anos de vivência executiva e experiência em gestão de pessoas e equipes. Promove sessões de Coaching, mentoria e palestras pela Jussara Goyano Bem-estar & Performance. Dirige a Ponto A – Comunicação & Conteúdo e a Ponto A Editora. Site: www.jgbemestareperformance.com