Brincar de Deus: quando e por que fazemos isso? 

Buscar respostas para o dia de amanhã e para o que transcende à limitada percepção captada pelos 5 sentidos, é de fato brincar de Deus. Se o Grande Mistério é acíclico e atemporal, se atermos à ideia que a temporalidade – que é cíclica – é uma ilusão, onde estará a ‘resposta segura’, a Verdade?

Arte, ciência e religião, indicam um processo de desenvolvimento absolutamente acíclico, que sempre incorpora a visão dos processos anteriores, transformando-os e gerando algo novo em direção temporal única e de forma imprevisível. As leis da natureza não nos dizem o que vai acontecer, mas o que pode acontecer.

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Brincar de Deus

A necessidade da ciência de buscar pelo que se repete ou pelo que é cíclico decorre da necessidade de compreender, gerar segurança, encontrar sentido e, de certa forma, é um “brincar de Deus”. Entretanto, um Deus ao avesso, um Deus que não se oculta no mistério que cerca o não saber, mas que reside na carne. Trata-se aqui de um tipo de Deus que ao se desfazer em sua criação no momento em que morre, permanece na expectativa de que ela continue por si só a partir de sua semente lançada.

Entender a família gerada e crê-la como a continuação de um ciclo é brincar de Deus, ou crer-se Deus. À semelhança daqueles que O acreditam fora de si, a primeira atitude O traz, enquanto ideia, dentro de si. Quem sabe a complementaridade seja solução mais plena?

O corolário mais grave das limitações biofísicas impostas à percepção sensória é o desafio da assimilação do conhecimento abstrato, que há de ser conquistado sem suporte de provas materiais. Aqui se situa o problema para o cientista, quando precisa recorrer a meios de dedução abstratos em seu trabalho. Ocorre, porém, que o produto desse esforço é visto pelo grande público com reservas, pois o “indemonstrável” não merece crédito. Esse é o outro lado do problema que se coloca em decorrência dos limites postos às percepções sensoriais.

A teologia e a física teórica expõem-se a esse julgamento sempre. Cada um dos campos faz de seu modo afirmações sobre o indemonstrável. A teologia propõe a via da fé para substanciar suas doutrinas enquanto as ciências naturais enveredam para o caminho da demonstração matemática para provar suas teorias. Seus discursos versam sobre o “indemonstrável” de uma questão da mesma natureza, apenas diferenciada por abordagens distintas. A ciência busca, disfarçadamente, pelo transcendental, assim como a arte, a música, a literatura e a religião.

Médico Neurocirurgião pelo HCFMUSP Doutor em Neurociências pelo ICBUSP Graduado em Física pela USP Especialista em Medicina Antroposófica pela ABMA Autor do livro e do blog: Saúde é Consciência Meu blog: http://saudeconsciencia.blogspot.com