Se tudo no universo muda o tempo todo, e nada tem volta… como poderíamos levar essa reflexão para a nossa vida pessoal? É cada vez mais claro o processo único que cada forma de vida manifesta e como é único cada momento em que a vida se desdobra em si mesma.
Em outubro de 1994 em uma edição especial da revista Scientific American dedicada à vida no universo observou-se que em todos os níveis, seja na cosmologia, na química, na biologia ou sociedades humanas, o que se observa são instabilidades, flutuações e evolução. Quem no início do século passado sonharia com o fato de que as partículas mais elementares que o compõe fossem instáveis ou que nosso universo possui uma história?
Assim, um olhar atento sugere que nada na natureza tem uma apresentação rigorosamente cíclica, ou que retorne a um estado idêntico ao ocupado em um momento anterior na linha do tempo (o tempo flui em uma direção única e não cíclica!).
Aparentemente, nascimento, procriação e morte guardam analogia com um processo cíclico, na medida em que a criação se perpetua e o repete. Pode-se admitir uma ciclicidade enquanto ideia abstrata de alternância entre momentos de expansão (criação, solução) e outros de contração (morte, dissolução).
Tudo no universo muda
No entanto, é cada vez mais claro o processo único que cada forma de vida manifesta e como é único cada momento em que a vida se desdobra em si mesma. Assim, por um lado a seta do tempo (entropia) caminha em direção única (biologia e envelhecimento), conforme os princípios termodinâmicos apontam, mas por outro o processo de desdobramento da consciência da vida do Homo sapiens (biografia) flui gerando informação e significado de modo a sempre permitir uma relação diferenciada entre a vida que se manifesta e o mundo que a acolhe. Nas palavras de Prigogine: “Tenho insistido sobre o fato de que há uma direção no tempo; envelhecemos juntos e as estrelas evoluem na mesma direção temporal que nós. É provável que a direção do tempo seja o que une todo o universo”.
Processos cíclicos são observados na vida (ritmo circadiano, ritmos de secreção hormonal, ciclo sono-vigília etc), apesar dela em si ocorrer em uma dinâmica não cíclica. Estes ciclos são de maneira geral comandados pela vida ao invés de a comandarem. Cada consciência e cada ser constituem uma singularidade na existência e prova do caráter irreversível da flecha do tempo. A observação do desdobramento do cosmos desde seus primórdios aponta nitidamente para um processo não cíclico, apesar de fenômenos com certa periodicidade como as glaciações ocorrerem. Entretanto, não há uma glaciação igual à outra, visto que as espécies são outras e o tempo de transformação das forças da natureza e suas energias é outro também.
Um cubo de açúcar dissolvido numa xícara de café não retorna espontaneamente à sua forma inicial. As plantas não crescem das flores. Nós ficamos sempre mais velhos. Se filmarmos alguém cozinhando ou uma planta crescendo e passarmos o filme ao contrário, seria claro que a direção do tempo havia sido invertida. Entretanto para sistemas simples, a distinção entre passado e futuro não é tão óbvia. Isso pode ser imaginado no caso do pêndulo que oscila na ausência de ar, no caso de bolas de bilhar que colidem ou ainda no caso da colisão entre um fóton e um elétron.
Haveria alguma mensagem na simplicidade destes eventos que pudéssemos transportar para nossa vida pessoal?