A busca pelo perfeccionismo ajuda ou atrapalha a vida? O que se realiza com exaustivo capricho resulta em algo bem melhor?
Minha avó materna usava um estranho ditado para se referir a quem desejava fazer algo tão impecável que fracassava. Dizia assim: o diabo quis fazer o olho do filho tão perfeito que acabou furando!
Perfeccionismo ajuda ou atrapalha?
Na prática clínica vejo exemplos dolorosos. Antes de um superjantar, uma cliente fez e refez a maquiagem e penteado algumas vezes e botou meio armário sobre a cama em busca da roupa perfeita. O triste é que chegou tarde demais para o jantar. Assim, seus amigos já estavam de partida para uma balada.
Já atendi quem havia abandonado dois mestrados porque não conseguia produzir a dissertação e perdia os prazos, a despeito da aprovação do orientador para a maior parte do texto. As objeções eram poucas, fáceis de fazer, mas o rapaz não sentia que o trabalho estivesse em condição de ser depositado e apresentado à banca. Agia assim em várias dimensões da vida.
A tênue fronteira entre o trabalho bem executado e o perfeccionismo
Bolos feios, com cobertura cheia de falhas não se vendem. Um vestido com barra torta vai encalhar na loja. Há um grau de trabalho mal executado que, de fato, compromete o resultado. Vejam a tristeza de uma cirurgia plástica malsucedida…
No entanto, capricho em excesso pode resultar em morosidade na entrega do trabalho, favorece a exaustão e isso estimula a desistência do que está sendo realizado.
Exaustivo capricho nem sempre resulta em algo muito melhor
Em geral, o que se realiza com exaustivo capricho não necessariamente resulta em algo substancialmente melhor. Por vezes, o sucesso reside na execução de algo suficientemente bom, feito com leveza, prazer e olhar atento.
Piquenique tem formiga. Vento despenteia o cabelo. O calor libera microgotículas de suor. Mostarda de cachorro quente enlambuza o rosto e a camiseta. Esses defeitos então nos impedirão de documentar em imagens umas horas de legítima e imperfeita alegria num parque?
Menos é mais, já nos ensinou o arquiteto Ludwig Mies van der Rohe. Foco, atenção, capricho e cuidado ajudam, depuram a obra. Excessos, exagero de detalhes, refacções intermináveis, aí reside o perigo da forma problemática de perfeccionismo.
Como você transita entre o esculacho e o perfeccionismo?
Regina Wielenska
É psicoterapeuta na abordagem analítico-comportamental na cidade de São Paulo. Graduada em Psicologia pela PUC-SP em 1981, é Mestre e Doutora em Psicologia Experimental pela IP-USP. Atua como terapeuta e supervisora clínica, é também professora-convidada em cursos de Especialização e Aprimoramento. Publicou dezenas de artigos científicos, e de divulgação científica, além de ser coautora de livros infanto-juvenis.
