E-mail enviado por uma leitora:
“Perdi minha mãe há três anos, e depois disso, tenho passado várias situações: tem momentos na vida que sinto uma angústia, vontade de chorar, saudade, falta de algo na minha vida. Sinto uma solidão, um vazio dentro de mim. Sou casada há 27 anos e não está dando muito certo porque ele acha que falo de tudo reclamo de tudo, inclusive disse há dias atrás que eu precisava de um tratamento. Às vezes me sinto como se estivesse ficando depressiva estou com muito medo. Cuido do meu pai, que é alcoólatra, tenho duas filhas e não posso ficar assim. Qual orientação a senhora me daria?”
Resposta: A perda de um ente querido, principalmente da mãe, pode desencadear uma depressão profunda sim. O luto tem que ser vivido e elaborado com o tempo.
No seu caso, porém, já se passaram três anos. Vale questionar se essa angústia que você vive é consequência apenas da perda de sua mãe, ou está vinculada a outros aspectos não resolvidos da sua vida. Porque com relação à perda da sua mãe, não há o que fazer, é uma situação definida. Mas se essa angústia estiver vinculada a outros aspectos de sua vida, talvez você possa fazer algumas mudanças que aliviem essa sensação ruim.
Vamos a um exemplo. Você diz que seu casamento não vai bem. Seu marido diz que você reclama muito e ele fica sem saber o que fazer. Mas e você? Independentemente das reclamações, ainda se sente bem casada com ele? Suas reclamações têm a ver com ele? Você gostaria de modificar alguma coisa nesse casamento? Sim, porque o relacionamento, se não estiver bom, pode mudar. Uma boa conversa pode levantar novas perspectivas. Diferente de uma morte, contra a qual não há o que fazer. Resumindo: não é muito saudável você ficar responsabilizando uma perda por todas as suas infelicidades. Mesmo que a perda seja imensa, você tem que avaliar o que não vai bem em sua vida de uma forma mais abrangente.
Você cuida de si mesma?
Outro aspecto a ser observado: você cuida de suas filhas e de seu pai alcoólatra, ou seja, usa muito da sua energia para cuidar dos outros. Mas… e de você mesma? Você tem cuidado? Tem feito coisas que lhe agradam? Tem alguma atividade de lazer? Sim, porque quem cuida dos outros tem que se cuidar também, caso contrario acaba sentindo que a vida não tem graça. É claro que faz parte de suas obrigações morais cuidar dessas pessoas, mas uma parte do seu tempo tem que ser dedicada a cuidados pessoais. Caso contrário, você, por estar sobrecarregada, acaba ficando ranzinza, reclamona e seu trabalho acaba não sendo reconhecido. Assim, tente, o mais breve que puder, encontrar atividades que sejam agradáveis e que tragam a você sensações de conforto que compensem a trabalhosa tarefa de cuidadora, principalmente de um pai alcoólatra.
De onde está vindo toda essa angústia?
Pode ser também que sua angústia esteja ligada à sua idade, ao declínio hormonal próprio da menopausa que pode levar à depressão. Aliás, depressão na menopausa é bastante comum. Nesse sentido, talvez, valha conversar com seu ginecologista e verificar como estão seus hormônios e se algum tratamento pode aliviar esse mal-estar.
Também vale buscar uma psicoterapia que possa ajudá-la a elaborar seu luto, identificar melhor as causas de suas angústias e resolvê-las da melhor forma possível. Afinal, a vida é feita de perdas e ganhos. Não é saudável ficar focada só no que você perdeu ou está perdendo. Tente focar no que ganhou, está ganhando, ou pode vir a ganhar, se estabelecer novos objetivos para os quais possa se dedicar.
Atenção!
Esta resposta (texto) não substitui uma consulta ou acompanhamento de uma psicóloga e não se caracteriza como sendo um atendimento.