Uma das consequências da pandemia em crianças e adolescentes envolve crises de ansiedade e depressão; entenda

A pandemia da Covid-19 constituiu, até agora, a grande adversidade vivida coletivamente pela humanidade, nesse século. O isolamento social, o convívio restrito à família e intenso demais, o medo da doença e da morte, o estado prolongado de espera, de confinamento, de restrições e medidas de proteção geraram um aumento considerável de estresse.

Perguntava-se: Será que vamos ficar assim para sempre? Quando se irá recuperar a normalidade? O que será o chamado “novo normal”? Quando o fim não está à vista e, inúmeras vezes ele foi adiado, pelas diversas variedade do vírus, o estresse vivido tende a aumentar progressivamente.

Com certeza, não podemos passar por tudo isso e fingir que nada aconteceu. Falava-se que o mundo pós-Covid-19, seria muito diferente. Que seria uma chance de mudar os padrões globais que estão esgotando os recursos e energias do planeta, que seria uma chance de reconstruir a economia, as atividades políticas, as redes sociais… Que seria uma chance da humanidade se tornar mais solidária…Seria isso apenas uma utopia?

O surto mundial da doença coronavírus foi uma fonte inesperada de adversidade e de aumento de estresse. Se a Covid-19 tem deixado sequelas percebíveis em vários que estiveram doentes, a sociedade viverá por anos as sequelas econômicas e emocionais impostas por essa infecção viral pandêmica.

Ao longo dos anos, a resposta a essa adversidade será diferente de país para país, como será diferente de grupo para grupo, de pessoa para pessoa. Possivelmente,  os países mais ricos, os grupos mais privilegiados e as pessoas mais diferenciadas sobreviverão melhor.

Consequências do momento atual da pandemia em crianças e adolescentes

Com a diminuição do número de óbitos e de infectados, com o relaxamento das medidas de proteção, estamos vivendo uma fase diferente. Ainda, uma fase de insegurança e de crise, que se reflete, de forma diferente, em crianças, adolescentes, adultos e velhos. 

Estamos tentando nos adaptar a uma rotina que se propõe diferente, mas que exige a volta de hábitos que havíamos esquecido por muitos meses. Cumpre citar como exemplo: uma grande maioria de crianças e adolescentes e, para não esquecer, seus pais, sofreram bastante com a escola online.

Crises de ansiedade em crianças e adolescentes são uma das consequências da pandemia

A dificuldade de acompanhar as aulas, a pressão dos pais, a falta dos colegas geraram sintomas de ansiedade, de depressão e de somatizações de ordens diversas, que levaram crianças e adolescentes aos atendimentos médicos e psicoterápicos.  

Pois bem, alívio e alegria acompanharam os estudantes de volta às aulas presenciais, que significou o reencontro com colegas, a volta a passeios, viagens e festas com os amigos. Muitos dos sintomas de patologias tiveram remissão. Mas, com o passar do tempo, voltaram também as provas e avaliações, agora presenciais, para estudantes que haviam se desacostumado com essas situações. Acrescenta-se a isso, a perda real de conteúdo que todos sofreram. Novas crises de ansiedade estão sendo desencadeadas, principalmente nas semanas de provas.

Queda no desempenho escolar, principalmente em português e matemática, é uma das consequências da pandemia

O desempenho escolar sofreu muito durante a Pandemia. O ganho em aprendizado foi significantemente menor, quando comparado à época anterior. Pesquisa do Instituto Unibanco com o Insper – Instituto de Ensino e Pesquisa, publicada no meio do ano de 2021, realizou uma estimativa do impacto que a pandemia teve no aprendizado de uma geração inteira de estudantes. Os dados da pesquisa revelaram que, além das questões de saúde e bem-estar de crianças e jovens, é necessário considerar  o quanto os alunos deixaram de aprender por causa da Pandemia. Os resultados mostrados pelo estudo foram alarmantes na amostra estudada. A proficiência estimada em Matemática e em Língua Portuguesa são muito baixas  quando comparadas às esperadas.

O cenário tende a gerar consequências duradouras na vida desses jovens, que poderão se refletir em sua futura participação no mercado de trabalho, em seu nível de renda, saúde e em outras dimensões de sua vida social e emocional.

Muitas das consequências da Pandemia ainda estão por vir. Iremos, todos, pagar um preço. Esse, já está sendo cobrado de muitos dos nossos estudantes, fragilizados pela falta de um ensino de qualidade e pela perda de bons hábitos de estudo. Precisam de ajuda. 

Ceres Alves Araujo

É psicóloga especializada em psicoterapia de crianças e adolescentes. Mestre em psicologia clínica pela PUC-SP, Doutora em Distúrbios da Comunicação Humana pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, professora do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica da PUC e autora de vários livros, entre eles 'Pais que educam - Uma aventura inesquecível' Editora Gente.