por Roberto A. Santos
Altos executivos e políticos envolvidos em grandes escândalos financeiros. Os adjetivos são sempre superlativos quando se trata de descoberta da falta de ética alheia, principalmente de figuras públicas, cada vez mais desgastadas.
Apesar de, praticamente, já termos aprendido a conviver com as notícias de rombos e desvios nas esferas governamentais, a ponto de nosso país estar sempre no podium mundial da corrupção, ainda nos surpreendemos quando ficamos sabendo de casos descobertos nas empresas, felizmente trazidos à luz do dia por uma imprensa, felizmente livre nos dias atuais.
Na realidade, estes fatos de hoje sempre ocorreram em toda a história da civilização. A era cristã já encarou, em seus primórdios, o caso de Judas Escariotes que foi corrompido pelos trinta dinheiros da época.
Sem dúvida, atualmente, os meios de comunicação estão muito mais abrangentes e democratizados. Os acontecimentos de alcova são mais frequentemente surpreendidos por câmeras, grampos, papparazzi ou hackers. A imprensa, muito mais livre e, segundo alguns, desregrada até, mostra semanalmente o que se passa por debaixo dos panos, em que poucos levam vantagem sobre muitos.
Grandes corporações, balanços, balancetes são auditados diariamente por consultorias globais — as sobreviventes, pois algumas já sucumbiram em seus próprios escândalos. Mas será que esses descalabros já nascem com gigantismo? Ou será que começam como pequenas distorções, de minúsculos detalhes, de poucos dígitos que se acredita passarão despercebidos?
Acredito que nenhum trabalhador do colarinho branco (eticamente encardidos) parte diretamente para grandes tramoias. Elas começam com pequenas transgressões com um relatório de despesas deturpado, com uma nota fiscal pedida com valor maior, com uma vantagenzinha num final de semana propiciada por um fornecedor, com o uso dos recursos da empresa para fins particulares, etc. De repente, essas escorregadas ditas irrelevantes por seus autores crescem com o fermento dos pecados capitais.
Deixando de lado os grandes executivos de grandes corporações, lembro-me de um coaching que dei a uma subordinada. Jovem de alto potencial, perspicaz, astuta, com a vivacidade e iniciativa que todos procuramos para nossas equipes. Notava que volta e meia, ela estava envolvida em comentários que, especialmente para Recursos Humanos, são inaceitáveis.
Infelizmente, ouvidos abertos para maledicências e fofocas são fartamente encontráveis nas empresas. Ninguém é capaz de dizer que gosta de fofocas mas todos adoram ouvi-las. Além disso, os propagadores destas comunicações ganham em prestígio pois sempre têm algo de novo, confidencial e até picante para compartilhar.
Numa oportunidade de feedback a esta jovem, fiz-lhe uma analogia do fio de prumo como uma alternativa mais segura e de futuro para se construir uma carreira. No começo de sua carreira, logo surgirão oportunidades para você fazer sua opção de se pautar pela verdade, integridade, coerência entre discurso e prática, enfim pelo fio de prumo da Ética ou pela opção da vaidade, ganância e outros pecados. Esse caminho dificilmente tem volta, pois você vai se envolvendo gradativamente em um círculo de semelhantes, cuja regra não é nada aprumada, mas está mais para um ninho de ratos, em todos sentidos. E quais seriam as formas para se pautar pela primeira opção?
Você fala das pessoas ou para as pessoas?
Fala-se muito em feedback hoje em dia, ou seja, dar uma retro-alimentação a alguém de quem recebemos uma comunicação verbal ou não verbal. Porém, o que mais se faz é falar da pessoa a quem queríamos dar o feedback, para várias outras pessoas, menos para a própria. Obviamente, quando falamos para outras pedimos confidencialidade. Pronto! Num instante, aquele "feedback" mal direcionado flui por corredores, sempre acompanhados do pedido de sigilo, para chegar todo distorcido àquela pessoa que o deveria ter recebido em primeiro lugar. Daí, começa a bola de neve de desentendimentos e o ambiente começa a se deteriorar progressivamente. Portanto, pautar-se pelo prumo é dar feedback à pessoa que é seu alvo e evitar falar dela para todos menos para ela.
Você condena as pessoas sem oportunidade de defesa?
Uma tendência que caminha de mãos dadas ao item anterior é a de assumir ditas verdades transmitidas por outros, interpretações superficiais, sensações superficiais sobre os motivos e atitudes dos outros, condenando-os sem direito de defesa. Essa condenação pode ser na forma de represálias ou das fofocas, sem que o réu tenha idéia de que foi colocado no banco, julgado e condenado. O princípio universal do direito de defesa deve estar presente também nos pequenos conflitos do dia-a-dia, para forjarmos nossa imagem de justiça e ética nos relacionamentos.
Você justifica ações fora do prumo por fatores externos?
É bastante conhecido aquele ditado: "a ocasião faz o ladrão." De fato, os desvios da ação íntegra e honesta são muitas vezes motivados por fatores externos: sociais, econômicos, psicológicos e culturais. As gritantes desigualdades que observamos em nossa sociedade, os maus tratos de chefes truculentos, inequidades flagrantes nas políticas corporativas são alguns dos fatores externos que fazem com que algumas pessoas justifiquem para si mesmas, aquelas pequenas contravenções, que até poderiam trazer mínimas consequências se não evoluíssem naturalmente junto com suas autojustificativas.
Você costuma contar mentiras brancas?
Não sei de onde saiu a coloração dada às mentiras contadas "para o bem" de outras pessoas, mas certamente foi para justificar a incapacidade de contar uma verdade. Mark Twain, famoso autor das Aventuras de Tom Sawyer, disse que a maior diferença entre um gato e a mentira é que o primeiro tem apenas nove vidas. Quem nunca contou uma mentira, provavelmente não conhece a verdade. Estaria mentindo se pregasse aqui que nunca se deve mentir… O problema que remete ao fio de prumo que destaquei no título é quando se começa a acreditar mais nas mentiras que contamos do que nas verdades que vivemos. Lembro-me de um chefe que tive que contava tantas mentiras até para quem já havia contado a versão verdadeira. Dá para imaginar a credibilidade dessas pessoas ao longo de sua carreira. A sabedoria popular que comenta sobre as pernas curtas das mentiras deve ser lembrada se queremos construir uma carreira pautada pela credibilidade pessoal e profissional.
O fio de prumo é aquele instrumento usado pelos pedreiros nas construções para garantir que uma parede que começou a ser construída do chão, chega ao teto em linha reta, sem desvios que depreciem a obra. Geralmente, trazem um pedaço de chumbo amarrado a uma linha de nylon que ajudado pela gravidade indica a retidão desejada. A ética e a regra de ouro de faça aos outros o que gostaria que fizessem a você, são a linha e o chumbo do fio de prumo que você pode optar por usar para construir sua carreira. A opção de abandoná-los pode ser considerada mas deve-se estar preparado pois um dia, como a casa, sua carreira pode ruir.