por Roberto Shinyashiki
Escutei uma frase muito especial, numa conversa com um mestre Zen budista no Japão e que tem orientado a minha vida…
Conversar com os mestres não é algo muito simples. Frequentemente, eles falam por metáforas. Seu inglês é lastimável e o sotaque atrapalha mais ainda a compreensão. Mas isso ainda não é o mais grave. O pior é que suas ideias são na maioria deslocadas do contexto do diálogo.
Naquele noite, durante o nosso encontro, eu estava muito distraído. Deixei de escutá-lo porque ficava preocupado pela incômoda ideia de caminhar debaixo da chuva até a estação de Kita Kamakura, onde pegaria o Shikansen (o trem bala), com destino a Tóquio. Lá fora, o barulho da tempestade, no gélido inverno japonês, perturbava.
Mas quando o mestre surpreendentemente me deu uma capa de chuva e se despediu dizendo: “As estrelas brilham na escuridão”! – fiquei muito mais preocupado com a chuva que iria enfrentar do que com a mensagem que acabara de escutar.
Durante o percurso, a chuva e o frio me incomodaram bastante e só pensei na ideia do mestre para desqualificá-la. O sol é uma estrela e brilha na claridade do dia. Isso pode ser poesia demais para um tempo de alta competição, mas a frase ficou latejando em minha mente até o momento em que adormeci no calor do quarto.
“Roberto: as estrelas brilham na escuridão ….”
No dia seguinte, na aula do meu curso de administração de empresas na Aots, o tema foi a crise econômica japonesa e os caminhos para superá-la. O professor naturalmente comentou sobre a importância de manter os valores e a fé para vencer o tsunami que enfrentaram. Para ele, o modelo norte-americano de superar crises, tratando as pessoas como objetos descartáveis, era algo desprezível e a solução a ser encontrada deveria ser a preservação, o respeito e a união das pessoas em torno dos seus objetivos.
A empresa deve estar unida em tempos de prosperidade e de incertezas. O indivíduo deve manter os seus valores mesmo que os resultados não sejam os desejados, porque, logo mais, as vitórias aparecerão.
Toda vez que escuto a voz do mestre em minha mente dizendo: “Roberto, as estrelas brilham na escuridão”…, penso que a única forma de sucesso que vale a pena, é aquela construída pouco a pouco. Quando aceitei fazer este artigo, resolvi escrever sobre os trabalhos de bastidores que mantém uma estrela como você brilhando no mundo dos negócios.
Cada vez mais, vemos profissionais com MBAs em grandes escolas, desempregados e sem perspectivas. Assistimos a decadência de outros que, seguindo a cartilha da modernidade, foram engolidos pelo furacão da globalização. Em escala crescente, presenciamos os CEOs de empresas gigantes caírem do topo de suas organizações.
Tem algo além dos feitos escritos nos currículos que levam grandes carreiras ao sucesso. Algo que não está escrito em nenhum manual mas, que o campeão tem dentro de si, e aquece a sua alma. Um trabalho que deve ser construído fora do olhar da multidão, dos aplausos efêmeros e da glória. Realizado no silêncio e na escuridão para podermos brilhar na vida. A maioria das pessoas de sucesso cultivam hábitos que lhes criam um extra diário, que no final da corrida vai representar a diferença .
Cinco hábitos que levam ao sucesso
1º – O sucesso é construido à noite
Durante o dia, a tendência é de todo mundo fazer as mesmas coisas. As organizações exigem e ensinam as mesmas coisas aos seus funcionários. O comprometimento com as operações diárias, forçam os profissionais a uma padronização que tende a desvalorização do seu trabalho, como aquele mecânico que trabalha 12 horas por dia para a empresa e, depois, é demitido porque não se atualizou.
A diferença, geralmente, é criada depois do expediente. São as leituras, análises e discussões que você faz depois que as luzes do escritório se apagam. Como aquele extra do Cielo a cada treino. Aquele acréscimo de 0,001 em cada braçada, é que vai garantir a medalha de ouro. O esforço invisível que ninguém aplaude, pois a maioria não consegue enxergar.
Não é simplesmente o estudo, mas também a elaboração do conhecimento capaz de somar habilidades e visão de mundo.
2º – As crises pessoais exigem luz própria para enfrentar as incertezas
Algumas atrizes se acomodam quando não estão escaladas para nenhuma novela. Atletas no banco de reserva tendem a despreocupar-se em relação ao seu preparo físico e mental e, ao ganhar uma oportunidade, não estão preparados.
O bem-sucedido é aquele que mantém o “gás”, mesmo quando os resultados não são os esperados. Eles criam objetivos e não deixam que derrotas provisórias abalem a sua fé na vitória.
É na fase de desemprego que o verdadeiro campeão prepara a sua guinada definitiva. Em momentos de crise pessoal, o autêntico profissional analisa as novas oportunidades, revoluciona sua carreira e mergulha de cabeça numa nova decisão.
Ninguém entra em crise por vontade própria: o governo às vezes desvaloriza o real, a empresa decide fechar a fábrica na qual trabalha, a sua esposa/esposo decide abandonar o casamento… Crises fazem parte da vida. É a sua atitude diante dos problemas que determinará a saída. Os perdedores se sentem vítimas do destino e transformam a sua dor em ressentimento. Os vencedores aproveitam os problemas para transformarem suas vidas para melhor.
3º – Faça o certo mesmo que ninguém veja
Muitas vezes, a empresa não exige que você utilize todos os seus conhecimentos . Seu chefe é condescendente com os erros. Ninguém valoriza um trabalho especial, e a tendência das pessoas é simplesmente fazer tudo de qualquer jeito, já que não existem exigências e estímulos. Enquanto luta para que a empresa o valorize, mantenha sempre o padrão de seu trabalho. Exija sempre o máximo de você. Essa é a postura de quem tem garra. Daquele que dá o sangue pelo prazer de se superar, mantendo seus valores, mesmo em situações adversas. A ética é um pilar imprescindível. Ser uma pessoa íntegra, mesmo que a sua empresa não exerça controle sobre suas negociações ou não tenha vitórias a curto prazo.
4º – Mantenha-se calmo mesmo que o mundo esteja explodindo ao seu redor
O ambiente de trabalho é cada vez mais agitado, barulhento, e é muito fácil se contaminar por esse caos. Muitas pessoas confundem velocidade com agitação. Velocidade nasce da capacidade de resolver os problemas e realizar metas. Agitação é a sensação de incapacidade frente às dificuldades.
Quando as coisas estiverem dando erradas, e isso acontece com frequência, precisamos respirar fundo e aceitar as crises como parte de nosso dia a dia, mantendo a direção e focando os objetivos, sempre.
De olho no furacão
Na Índia, os mestres chamam esse estado de “permanência no olho do furacão”. Dizem que no centro do furacão tem um lugar onde a paz é absoluta. E é nesse lugar que você deve procurar estar.
Quando todo o mundo explodir, é necessário se concentrar e analisar a situação. Chamar o pessoal para uma conversa e lembrar a turma que logo adiante as coisas vão melhorar, as opções para contornar a maré aparecerão.
5º – Mantenha sua autoestima
Mantenha sempre a sua autoestima independente dos aplausos dos outros. A maioria das pessoas tem se perdido porque somente se sente importante quando aplaudidas. Talvez essa seja a maior fonte de sofrimento nos tempos atuais: a identificação da sua importância com os valores que os outros lhe dão.
Muita gente procura manter a sua autoestima rebaixando os outros. O pai que grita com os seus filhos, a ameaça de demissão dos chefes que se sentem confusos …
Há ainda aqueles que gostam de mostra sua importância pelos bens que possuem. Esses objetos constroem uma ilusão passageira que somente criam maior dependência . Assim, como uma droga só tem efeito passageiro.
Por isso, ao lembrar das palavras: “As estrelas brilham na escuridão”, sei que o currículo não pode conquistar uma vaga, quem vai cuidar de agarrá-la e mantê-la, é você.