por Jocelem Mastrodi Salgado
Quem de nós já não tomou uma "poção" quentinha para dores, nervosismo e insônia? Será que os chás tomados eram os mais indicados? Convivendo com as plantas medicinais desde os primórdios das civilizações, os homens aprenderam a reconhecer, respeitar e usar suas propriedades curativas.
No entanto, não se deve recorrer aos produtos vegetais como se fossem inofensivos só por serem naturais. Os produtos naturais têm ações específicas, e por isso sua utilização deve ser sempre acompanhada de orientação médica.
Hoje percebemos que a medicina vem confirmando, cada vez mais, as propriedades curativas das ervas. Cresce, portanto, a cada dia, o número de pessoas que encontram nas plantas medicinais um auxiliar natural, seguro e eficaz para a manutenção e restauração da sua saúde.
Mas um chazinho para uma indisposição gástrica é completamente diferente de um tratamento intensivo apenas com chás para uma pneumonia, por exemplo. A auto-medicação, prática recorrente no país, precisa ser orientada.
Muita gente pensa que, por serem feitos à base de ingredientes naturais, os medicamentos fitoterápicos apresentam menos riscos que as substâncias químicas.
Na verdade, as ervas medicinais da mesma forma que seus correspondentes farmacêuticos podem provocar efeitos colaterais altamente tóxicos. Além disso, as ervas medicinais não estão sujeitas a padrões rígidos de controle como os medicamentos sintéticos.
Embora as plantas medicinais sejam consideradas as precursoras da moderna farmacologia, há algum tempo a comunidade científica internacional vem ampliando gradativamente as pesquisas em relação ao seu potencial. Ao mesmo tempo, o interesse pela Ecologia, assim como uma procura cada vez maior pelas terapias alternativas, fazem com que a divulgação dos resultados dessas pesquisas tenham uma repercussão muito maior do que anteriormente.
Em 1988, foi criada a Sociedade Brasileira de Plantas Medicinais, órgão sem fins lucrativos que reúne pesquisadores, técnicos e profissionais atuantes nas áreas de botânica, agronomia, farmacologia e química, além de outros profissionais universitários ligados diretamente aos serviços públicos de saúde, empresas e instituições não governamentais que tenham a mesma finalidade.
A preocupação é catalogar e sistematizar toda e qualquer planta brasileira conhecida como "medicinal", nativa ou cultivada aqui, para orientar a utilização e garantir a sua preservação no ambiente.
Extrato de plantas é a base da medicina tradicional
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, 80% das pessoas dos países em desenvolvimento dependem da medicina tradicional para suas necessidades básicas de saúde, e cerca de 85% da medicina tradicional envolve o uso de extratos de plantas. lsso significa que três, quatro a cinco bilhões de pessoas dependem de plantas como fontes de remédios. Cerca de 80% da população da Terra não têm condições financeiras para comprar medicamentos.
No Brasil, estima-se que 60% dos habitantes recorram às plantas medicinais, principalmente por falta de recursos. No entanto, o país representa o sétimo mercado mundial de produtos farmacêuticos, sendo que 60% dos remédios são consumidos por apenas 23% da população.
Mesmo tendo um dos celeiros naturais mais variado e valioso do mundo, o Brasil chega a gastar uma fortuna entre dois e três bilhões de dólares por ano para importar as matérias-primas de 90% dos remédios sintéticos consumidos pela população.
Avanços recentes nas pesquisas indicam que a biodiversidade representa, também, a diversidade química do ambiente e que os produtos naturais são ativos, desempenhando determinada função biológica nas plantas onde ocorrem. Essas funções tanto podem ser reguladoras, de defesa ou ainda, úteis para a preservação da espécie, atraindo pássaros ou insetos responsáveis pela polinização e dispersão de sementes. Tais conceitos auxiliam na compreensão do ecossistema, na obtenção de novos fármacos e produção sustentável das plantas medicinais.