O grande teórico da psicologia John Bowlby nos ensinou que o luto é um processo natural que ocorre em reação a um rompimento de vínculo afetivo.
No entanto, diante de todo esse tempo vivido, da fragilidade emocional que o novo coronavírus nos trouxe, dos desafios e reinvenções com o novo normal, muitos também estão vivenciando um processamento de um luto diferente: um novo normal do luto. Como disse certa vez a doutora Sherry Cormier, a Covid-19 não é somente uma crise epidemiológica, mas também psicológica: “temos que começar reconhecendo que nos encontramos no meio de um processo de sofrimento coletivo. Todos nós estamos perdendo algo”.
Processo de luto possui cinco estágios
A psiquiatra suíço-americana Elisabeth Kübler-Ross, pioneira em estudos sobre a morte e a mais respeitada autoridade no assunto, nos mostra que o luto passa por cinco estágios: negação; raiva; barganha (negociação); depressão e aceitação. Esses estágios não acontecem necessariamente nessa ordem e podem se alternar. Vai depender da elaboração de cada um.
A pandemia do novo coronavírus provoca diversas formas de sentimento de perda. Entretanto, as diversas mortes enfrentadas por tantas famílias vêm ocasionando dificuldades psíquicas, pois muitos não têm tido a oportunidade de vivenciar o ciclo da morte e do morrer, nem também de despedir-se com um fechamento emocionalmente saudável.
Síndrome de luto prolongado, você já ouviu falar?
O distanciamento social impede qualquer oportunidade de conexão e de possibilidade de vínculos de apego saudável como apoio nesse momento de elaboração do luto e da perda, pois os velórios estão readaptados, sem poder acontecer convencionalmente. Isso pode levar a um quadro conhecido como síndrome do luto prolongado, fazendo, muitas vezes, com que a pessoa não consiga executar o fechamento e a elaboração do luto vivido. Esse luto se prolonga de forma patológica trazendo outros prejuízos psíquicos, muitas vezes, para toda a família envolvida. Superar o luto é fundamental, e é importante que a perda não seja reprimida, do contrário, pode se manifestar posteriormente como algum outro sintoma.
Por que o luto no novo normal aumenta a sensação de impotência?
As pessoas não estão dizendo adeus da mesma forma que antes para as perdas vividas. Não estão podendo oferecer o amparo presencialmente, nem mesmo um forte abraço, que, muitas vezes, fala mais que qualquer palavra nessa hora. Completo sempre dizendo que, nesses momentos, o ato de abraçar acolhe o coração e a dor do outro. E diante da situação do distanciamento social, deparo-me com um sentimento de castração. A sensação de impotência é devastadora, segundo os pacientes que venho atendendo e que vêm enfrentando esse luto do novo normal.
Nós, profissionais da saúde, estamos também nos reinventando para atender e acolher essas pessoas que vêm enfrentando sucessivas perdas, porque elas não perderam só alguém… elas perderam a autonomia e a liberdade de poder elaborar livremente o luto e a dor.
Que possamos ter uma visão mais empática com a dor do outro. Que tudo isso tenha um grande aprendizado nos corações e nas ações das pessoas. Que possamos sair mais fortalecidos e renovados. Pois, é preciso tempo, compreensão e muita empatia para elaborar um processo de perda.