Medo! Medo! Medo! Medo!

Por Eduardo Ferreira Santos

Se já não bastasse o sentimento natural do Ser Humano de Insegurança, pois não sabemos o futuro e caminhamos às cegas nesta vida… Há o bombardeio diário de tragédias, dores, sofrimento e luto, que invade nossos lares diariamente, através do rádio, jornais, revistas e, principalmente, a televisão insiste em amplificar em muito este sentimento.

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Já Caetano Veloso, em sua memorável “Soy Loco Por Ti America”, “… sei que um dia vou morrer de susto, de bala ou vício…”, mas a torrente de informações macabras que chega até nós diariamente torna cada vez mais agudo essa sensação do perigo e da dor.

Ouvimos de amigos, conhecidos ou nós mesmos vivemos tragédias pessoais que trazem para muito perto de nós o sentimento de ameaça e medo.

Existe teórica e semanticamente uma diferença entre RISCO e AMEAÇA, onde o risco representa apenas a possibilidade (maior ou menor) de algo poder nos acontecer e a ameaça expressa o real perigo que está acontecendo.

Com essa exposição midiática e “apelativa”, estamos cada dia mais ameaçados e amedrontados.

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Já podemos antecipar um diagnóstico de “Transtorno de Estresse Pré-Traumático”, que já está levando muitos de nós a se refugiar em suas próprias casas, a viver obcecado por ter um carro blindado, não deixar de dizer aos nossos filhos quando saem de casa que tenham cuidado e que “vão com Deus” – mesmo que não acreditemos em Deus.

Ficarmos remoendo nossas próprias dores ao ver mães, pais e cônjuges enterrarem seus entes queridos, entrevistados aos prantos por jornalistas compungidos, porém firmes em cumprir seu papel profissional de informar (?) o que está ocorrendo nesse mundo enlouquecido que nos cerca.

Se não é por obra da natureza, como enchentes e terremotos, vemos a negligência de quem deveria cuidar de seres humanos abandonando-nos à própria sorte e até promovendo ou facilitando tragédias como Brumadinho, incêndio no CT do Flamengo, surtos dessa ou daquela doença, aumento da criminalidade em níveis exponenciais…

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O medo toma conta de nós!

Será a mídia, com seu aparato espalhafatoso a responsável por isso?

Será que passar um dia todo contando o número de corpos encontrados, inteiros ou despedaçados é um serviço ou um desserviço à sociedade como um todo?

Não sei!

Só sei do medo, da insegurança, de um certo terror que vejo tomar conta de nossa sociedade.

Vejo pessoas evitando outras pessoas na rua, motoristas de taxi apavorados com clientes “suspeitos”, criança indo à escola sem a certeza de que voltarão vivas para casa.

Vejo o susto, a bala ou mesmo o vício em cada esquina, em cada passo que damos.

Vejo uma boa parte das pessoas assustadas, acuadas, seja social ou economicamente recorrendo a milagres que não vêm, procurando refúgio dentro de si mesmas e, infelizmente, encontrando a mesma escuridão que encobre nossos dias.

Pergunto de novo: será a mídia que cria esse medo?

Ou será esse mundo que a cada dia amplifica sua perversidade e trás cada dia mais perto de cada um de nós os mais terríveis e assustadores males de uma humanidade absurdamente desumanizada?

Sou psiquiatra e psicoterapeuta cuja Tese de Doutorado foi sobre vítimas da Violência Urbana, portanto, após atender cerca de quinhentos clientes que sofreram as mais diversas crueldades, deveria estar acostumado com isso tudo… mas não, não estou!

Vejo na TV cenas chocantes, e não são poucas, às vezes consigo conter as lágrimas: pelas vítimas, seus familiares, por minha família, por mim mesmo.

Curvo-me sobre mim mesmo e repito as palavras de John Donne (poeta), imortalizadas por Hemingway:

“Por quem os sinos dobram? Eles dobram por nós”

Bem…

Qual é o efeito de tudo isso sobre nós? Continuo com este assunto no próximo post. Meu conselho é que mude de canal quando o massacre de tragédias via mídia adentrar seu lar.