Micro e nanoplásticos: como ingerimos plástico sem saber  

Ingestão de plástico: comemos e bebemos o equivalente a um cartão de crédito por semana

Em média, cinco gramas de minúsculas partículas plásticas são ingeridas a cada semana – isso equivale ao peso de um cartão de crédito. Micro e nanoplásticos ingeridos representam um risco potencial para a saúde, e estão sendo investigados em inúmeras pesquisas. Estudos experimentais indicam que ao passar pelo trato gastrointestinal, os micro e nanoplásticos levam a alterações na composição do microbioma intestinal. Estas mudanças estão associadas ao desenvolvimento de doenças metabólicas como diabetes, obesidade e doença hepática crônica.

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Absorção intestinal

Além dos efeitos no microbioma, os cientistas também encontraram mecanismos moleculares que facilitam a absorção de micro e nanoplásticos no tecido intestinal. Através de análises específicas foi demonstrado que os micro e nanoplásticos podem se entranhar nas células do intestino e ativar mecanismos de respostas inflamatórias e imunes locais. Os nanoplásticos, em particular, estão associados a processos bioquímicos envolvidos na carcinogênese, ou seja, na produção de células cancerígenas. Os possíveis efeitos negativos de micro e nanoplásticos podem ser mais impactantes em portadores de doenças crônicas.

Cadeia alimentar

Por definição, nanoplásticos têm medida inferior a 0,001 milímetros (< 1 μm), enquanto microplásticos variam de 0,001 a 5 mm. Estas partículas entram na cadeia alimentar principalmente a partir de resíduos de embalagens, dentre outras fontes como alimentos de origem marinha (pescados, mariscos, sal marinho), frutas, vegetais, água e bebidas diversas. De acordo com os pesquisadores, quem bebe 1,5 a 2 litros de água por dia a partir de garrafas PET, ingere cerca de 90.000 partículas plásticas por ano apenas desta forma. Já a água da bica filtrada contribui com 40.000 partículas anuais.

Revolução tecnológica

Na década de 1950 o plástico revolucionou o mercado trazendo praticidade às nossas vidas. No entanto, ninguém antecipou o outro lado da moeda até recentemente. Ao longo dos anos, vários estudos vêm destacando o acúmulo de grandes volumes de detritos plásticos na natureza e suas consequências ambientais. Somente nos últimos 10 anos surgiram investigações aprofundadas sobre o efeito de plásticos microscópicos na saúde humana em geral e na carcinogênese em particular. O consumo de micro e nanoplásticos pode ocorrer diretamente através da cadeia alimentar ou indiretamente através da ingestão de partículas inaladas ou absorvidas pela pele.

Poluição plástica

Plásticos causam uma contaminação generalizada no meio ambiente e em organismos vivos. Em 1950 a produção anual gerou um ‘modesto’ nível de 2 milhões de toneladas. Em 2015, a produção global de plásticos havia crescido para 380 milhões de toneladas por ano, e até esta data foram gerados 6,3 bilhões de toneladas de resíduos, dos quais 9% foram reciclados, 12% foram incinerados e os 79% restantes foram parar em aterros sanitários ou no meio ambiente, especialmente em mares e oceanos. A estimativa é que 8,5 bilhões de toneladas métricas de plásticos e produtos derivados foram produzidas até o momento atual.

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Toneladas de partículas plásticas

De acordo com um estudo feito no Marine Biology & Ecology Research Centre, a carga plástica liberada por roupas feitas de fibras sintéticas (poliéster, acrílico, nylon) equivale a mais de 700.000 microfibras por lavagem de máquina (6 kg de carga), que acabam em águas residuais. Assim, toneladas de partículas plásticas chegam aos rios e mares para entrar na cadeia alimentar, através da sua ingestão por animais marinhos, no sal marinho e na água potável, e vão parar na nossa mesa de jantar.

Inflamação e alterações imunológicas

Nem frutas e legumes escapam da contaminação do plástico

Estudos recentes indicaram a presença de micro e nanoplásticos em outros alimentos, como frutas, legumes e arroz, equivalendo a uma ingestão média de cinco gramas de plásticos por semana por pessoa. A boa notícia é que pesquisas com células humanas in vitro e modelos de mamíferos in vivo sugerem que apenas uma fração limitada das partículas de plástico é absorvida pelo corpo humano. A má notícia é que a simples presença de plásticos no trato digestivo leva a modificações na composição da microbiota intestinal, produzindo inflamação local e alterações no sistema imunológico.

Referências
*Exposure & Health 2022. To waste or not to waste – questioning potential health risks of micro & nanoplastics with focus on their ingestion & potential carcinogenicity.
*Life (Basel) 2021. Microplastics in the Food Chain.
*World Health Organization 2019. Microplastics in Drinking-Water.
*Environmental Research 2020. Micro & nanoplastics in edible fruits & vegetables.
*Marine Pollution Bulletin 2016. Release of synthetic microplastic plastic fibres from domestic washing machines.
*Science Advances 2017. Production, use & fate of all plastics ever made.
*Nanomaterials (Basel) 2021. Impact of Microplastics & Nanoplastics on Human Health.

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Médica especializada em Nutrologia. Membro da ABRAN – Associação Brasileira de Nutrologia. Pós-graduada em Terapia Ortomolecular, Nutrição Celular e Longevidade – FACIS-IBEHE Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo e Centro de Ensino Superior de Homeopatia. Membro Titular da Sociedade Médica Brasileira de Intradermoterapia. Consultora com atuação em Nutrologia e Medicina Ortomolecular. CRM 52 301716 www.tamaramazaracki.med.br