Músicas de Marília Mendonça para aliviar a sofrência

Entenda por que ouvir as músicas de Marília Mendonça pode ser um primeiro passo para aliviar a sofrência, a palavra-chave é reconhecimento/identificação

E-mail enviado por uma leitora:

“Até a trágica morte da cantora Marília Mendonça, eu desconhecia a sua existência. Mas com a avalanche de informações, fiquei sabendo que ela compôs músicas temperadas com muita ‘sofrência’, criando o estilo musical chamado “feminejo”. Curiosa que sou, fui ver suas letras, como por exemplo, da música “Supera” e vi que mais do que ser uma porta-voz da “sofrência” feminina, ela ‘atua’ como uma espécie de amiga-conselheira, trazendo uma conversa ao pé-do-ouvido para poder lidar, aliviar ou superar o sofrimento. Gostaria de saber se isso, de fato, pode ser efetivo? Muito obrigada.”

Resposta: Se ouvir as músicas de Marília Mendonça modifica um padrão de comportamento, trazendo sororidade (sensação de não estar sozinha), já é um primeiro passo para que a pessoa possa vir a superar de vez uma relação amorosa que não deu certo.

Não sei se tem como provar, de certa forma. Mas quando eu penso na palavra efetivo, fico pensando que essa palavra pode ser empregada em outras situações, que às vezes pode não parecer tão resolutiva, mas que ajuda e muito.

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Músicas de Marília Mendonça para aliviar a sofrência

Quando a Marília cantava, e para mim ainda canta, já que a musicalidade é uma arte e arte não morre. Ou seja, morre a Marília, mas não sua arte ou seu legado. Ela traz uma representatividade importante sobre situações amorosas, sobre o papel da mulher dentro de vários tipos de relação. E isso faz com que a pessoa se reconheça dentro da música e se reconhecer é o primeiro passo para qualquer tipo de mudança.

Em suas letras, Marília representava mulheres que foram traídas e traíram, que eram amantes, que tinham relações ruins, relações fugazes etc. Quando você passa por alguma situação dessas, e que não sabe o que fazer, mas você escuta uma voz que canta o que você sente, passa várias sensações, como por exemplo: nossa é exatamente o que eu sinto, eu sou a mulher traída nessa relação cantada na música, eu vou superar essa relação que me machucou, essa pessoa também não se sente ouvida dentro dessa relação que ela teve etc.

Primeiro passo para mudar é o reconhecimento

O primeiro passo para qualquer mudança é o reconhecimento, e pensando dessa forma, sim ajuda a reconhecer e fortalecer esse primeiro passo. A Marília cantava situações amorosas que nem sempre temos coragem de contar para um psicoterapeuta, ou para uma amiga (se eu falar que saí com ele de novo meus amigos vão se decepcionar, o que as pessoas vão pensar etc) e ai Marília cantava:

Faltou coragem pra dizer que não
Bebi, liguei, parei no seu colchão
Chego apaixonado e saio arrependido
Amar por dois só me dá prejuízo
Só me dá prejuízo

(Bebi Liguei – Marília Mendonça)

E de certa forma se dá uma espécie de alívio, porque eu não sou a única pessoa que recaí e saí com uma pessoa que não me ama, logo eu não sou a única que cometi isso, e tá tudo bem… da próxima vez eu posso, eu posso seguir o conselho da Marília:

Para de insistir, chega de se iludir
O que cê tá passando, eu já passei e eu sobrevivi
Se ele não te quer, supera
Se ele não te quer, supera

(Supera – Marília Mendonça)

E como as músicas, como a da Marília como de outros artistas, estão presentes dentro dos meus atendimentos, e servem como trampolim para mergulhar nas angústias dos meus pacientes: “Dra. a senhora sabe aquela música que fala assim”; “Dra. eu tive um sonho e desenhei ele porque achei que é importante”; “Dra eu vi uma série e faço igual esse personagem”.

Reconhecer a outra e se reconhecer na outra, é primordial para a evolução e o autodesenvolvimento

A gente aprende quando criança por meio da imitação, e já dizia a frase: A arte imita a vida. E é por meio da imitação e da reprodução que angariamos repertório para a construção do EU, e reconhecer o outro e se reconhecer no outro, é primordial para a evolução e o desenvolvimento. Então, assim se torna efetivo. Só posso mudar algo que conheço e reconheço, se não tiver esse reconhecimento, é impossível uma mudança, desse modo então, pensando por esse viés, sim é efetivo.

Obrigada Marília, por dar a oportunidade de tantas pessoas se reconhecerem através de sua música e assim buscarem motivos para a mudança. Sempre foi um prazer ter você e sua música dentro das paredes do meu consultório, você me ajudou muito como pessoa e terapeuta, e com certeza ainda vai ajudar muita gente.

Psicóloga Clínica, Psicodramatista pela Associação Brasileira de Psicodrama e Sociodrama (ABPS), cursando nível II e III na Sociedade Paulista de Psicodrama e Sociodrama (SOPSP) e Terapia de Casal no Instituto J L Moreno. Pesquisadora no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas FMUSP no PRO AMITI no setor de Amor Patológico e Ciúme Excessivo. Vice-presidenta da Associação Viver Bem

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