Pelo contrário, para melhor performance, pause!
Num estudo da Universidade de Durham (Inglaterra), realizado em 2016 com 18 mil pessoas de 134 países diferentes, cerca de um terço delas manifestou desejo ou necessidade de períodos maiores de descanso em seu cotidiano. A pergunta que ainda faço é: por que não descansavam? (Ou por que muitas ainda não descansam?)
Mais do que provocar ou afrontar essas pessoas tão sobrecarregadas ou certamente alinhadas com o discurso de que o sucesso só acontece para quem se esforça além da conta (sem se ater ao que é realmente sucesso ou quais seriam os limites desse esforço), essas perguntas ocorrem para solucionar a dor recorrente da falta de descanso. Seriam as questões-chave a se levantar, cujas respostas possíveis podem dar conta de um tremendo autoengano.
Simplesmente dizer que “há muito ou demais a se fazer” é o que parece coerente entre esses indivíduos, mas não necessariamente dimensiona o tamanho do problema. Observando como seres altamente produtivos e criativos designam uma boa parcela do dia para o descanso, ou para atividades lúdicas que funcionam como recarga das baterias, é possível perceber como algo está errado.
Daí a necessidade de desmontar o discurso do excesso de trabalho, da falta de dias nos calendários para descansar ou, mesmo, para realizar mais uma porção de coisas. Outras questões, não menos importantes, se sucedem à primeira: Toda essa sobrecarga é necessária? A procrastinação ou a perda de foco inúmeras vezes durante a realização das tarefas não seriam o problema? Preciso trabalhar mais ou corretamente?
O vilão acaba sendo sempre o descanso, porque é mais simples culpá-lo e usar o tempo que lhe cabe. Dormir – é o que se diz – “é para os fracos”. O que seria para os “fortes”, no entanto – planejar, priorizar, delegar, dimensionar corretamente o tempo e simplesmente dizer não àquilo que lhe parece demais, o que poderia nos tornar mais produtivos e nos poupar tempo para descansar – também acaba negligenciado. E mais negligenciados são, assim, o direito ao ócio, o hobby, o sono, entre outras atividades que possam nos fazer pausar.
Ciência e técnica
O descanso não é só para a reposição da energia física, mas também o espaço para a criatividade fluir. Uma mente empreendedora, por exemplo, detentora de potenciais soluções para dores diversas de potenciais clientes, não pode abrir mão desse fluxo criativo. Artistas, criadores de conteúdos… todos precisam de descanso, de horas a mais de sono, sonecas, atividades lúdicas a anos sabáticos. Porque é no descanso, segundo outro estudo, este da London College (2016), que consolidamos nossas experiências. Um monitoramento mostrou que é nesse período que a memória percorre o caminho de um ponto a outro do cérebro, das conexões que representam o processamento recente ao mapa de acesso em longo prazo, de maneira que as informações se fixam em nossa mente e reagem mais rápido a um recall quando necessário.
Não à toa, a meditação nos faz tanto bem, e grande parte das técnicas de produtividade utilizadas em gestão de recursos e desenvolvimento humanos preveem pausas didáticas entre blocos concentrados de trabalho.
É o caso da popular técnica do Pomodoro, desenvolvida pelo executivo Francesco Cirillo nos anos 1980, que auxilia no aumento de foco e do engajamento durante os períodos ativos de tarefa, prevendo pausas estratégicas como recompensa a essa concentração. Sua variante Flowtime também, apenas para citar as mais conhecidas.
Essa alternância entre atividade e pausa, de certa maneira, também é defendida pelo professor visitante de Stanford (EUA) Alex Soojung-Kim Pang, autor do livro “Descansar: A razão pela qual conseguimos fazer mais trabalhando menos” (Temas e Debates, 2017). Foi observando hábito de personalidades como Stephen King e Darwin, entre outras, que ele verificou a importância da pausa e do descanso. Obcecados pelo trabalho e pela qualidade deste, eles eram, contudo, adeptos de poucas horas nessa atividade e uma boa parte do dia dedicada a descansar e seus hobbies.
Mas como é possível produzir tanto, tão bem e descansar tanto? Prioridade? Foco? Monotarefas? Na verdade, saber distinguir entre o urgente, o circunstancial (porém adiável) e o importante (trabalho constante que leva ao cumprimento de uma grande meta) já seria um importante passo para ganhar tempo e produtividade. Por hora, exercitar essa categorização nos afazeres do dia já nos leva a outro patamar de produção e consciência. E saber que o descanso não atrapalha, pelo contrário, nos faz quebrar um paradigma importante, e em reforço da prática virão outros artigos sobre o tema neste mesmo espaço. Até lá!