Por Luís César Ebraico
Uma de minhas leitoras enviou-me um e-mail dizendo que, embora interessada em meus "DIÁLOGOS", eles, por vezes, a cansavam e ela não sabia "aonde eu queria chegar". Respondi assim:
"Felipa, entendo que você fique cansada com meus escritos: eles são densos e, para muitos, pensar cansa. Só não entendi que você não tenha entendido aonde eu quero chegar: não sei bem quais de meus escritos você leu, mas penso que deixei clara a intenção de fornecer repertórios para que as pessoas sejam capazes de se apropriarem, via palavra, do que ELAS, de fato, SÃO."
E, tendo replicado, recebi a seguinte tréplica:
"Você reflete sobre a nossa identidade: somos dois? Cindidos? Acho que me senti sem resposta. É isso….Mas depois fiquei pensando: às vezes é assim mesmo que funcionamos; vamos de um registro a outro e nem sempre eles tem conexão! E isso ajuda a entender também a forma de comunicação entre algumas pessoas: uma fala uma coisa, pensando em ouvir "certa" resposta e o interlocutor vem com outra "idéia" completamente distinta. Alguns de seus textos demonstram isso. Mas leio sempre e sinto por você não poder escrever com maior freqüência. Fico esperando novidades. Desde a sua estréia achei estranho, pois você foge do modelo "receita pronta", temperado com manual de "auto-ajuda", ainda que eu mesma goste bem de alguns outros autores e autoras do Vya Estelar. Teu estilo deixa a gente "no ar", tendo que pensar!!! Acho que pensar não cansa. Não cansa, não! Conseguir interlocução, ou melhor, compreender que não há resposta pra tudo!"
Minha resposta:
"Felipa, acho haver pouca dúvida quanto ao fato de que todos nós somos dois. Um é o "eu" que reconhecemos como nós mesmos, outro é o que Freud chamou de "isso": aquele pedaço de nós que, quando toma conta de nosso comportamento, nos faz sentir que estávamos "fora de nós". E só somos capazes de reconhecer se estivemos sendo operados por esse "isso", depois que novamente "caímos em nós"…
Quanto a meus textos levarem as pessoas a "ter que pensar", o propósito é esse mesmo. Embora eu saiba que, para certas pessoas, isso é extremamente cansativo. Preferem "receitas de bolo". Você acha que haja resposta pronta sobre como jogar xadrez? Você acha que pode haver alguma manual dizendo que SEMPRE é bom colocar o cavalo na terceira casa da rainha, ou que SEMPRE é mal deslocar a torre para a segunda casa do bispo do rei? E você acha que o jogo de xadrez é mais simples do que a vida?
Para jogar bem xadrez e jogar bem a vida, é necessário SABER O QUE SE PRETENDE e é necessário PENSAR. Saber o que se pretende em um jogo de xadrez é mais do que fácil: é dar cheque ao rei. Saber o que se pretende da vida, de um ponto de vista bem geral, também não é tão difícil: é conseguir a maior QUANTIDADE DE VIDA, com a melhor QUALIDADE DE VIDA.
Agora, para conseguir isso, é preciso PENSAR, REFLETIR. E você me dizer que "pensar não cansa"… Bem, isso pode ser verdade para certas pessoas – de repente, como eu disse, não cansa a você – mas, em minha experiência, a certas pessoas, cansa muito!