por Roberto Goldkorn
Vira e mexe alguém me escreve pedindo informações sobre desenvolvimento de talentos psíquicos. Essas pessoas me fazem sentir saudades da época em que investia meu tempo e atenção ao estudo da parapsicologia e fui seu aguerrido defensor. Mas aos poucos fui desistindo e redirecionando meu foco de interesses.
Assim cada vez que alguém me escreve pedindo informações sobre o tema, me traz à memória os quinze anos de estudos e pesquisas, não muito profundo, nem beirando à complexidade de laboratórios, como os da antiga União Soviética ou os das Universidades mais avançadas nos Estados Unidos.
O que aconteceu com essa filha mais nova e empacada da ciência, que nunca conseguiu ser reconhecida como filha e sempre teve a paternidade contestada pelos "pais"? Minha conclusão talvez explique a minha desilusão ou desânimo com os estudos de parapsicologia.
Logo de início entrei em contato com os trabalhos pioneiros do Prof. J.B. Rhine da Duke University. Sua intenção era das melhores: queria usar a metodologia científica que conhecia bem, para validar os chamados fenômenos parapsicológicos. Trabalhou anos com o baralho Zener na tentativa de checar temas como pre-cognição, telepatia e outros. Seus resultados o deixaram perplexo a princípio. Suas "cobaias" (estudantes universitários) tinham desempenhos extraordinários no início, demonstrando claramente o que se convencionou na época serem os fenômenos ESP (extrasensorial perception). Porém, como exigia o protocolo científico para se validar uma experiência, era necessário repetir centenas e milhares de vezes os mesmo resultados e isso acabava não acontecendo.
O professor, abatido, formulou uma "desculpa" que se tornou um paradigma altamente explicativo da "fisiologia" do fenômeno: "The boredon effect", em português popular: efeito saco cheio. Ele percebeu que, ao contrário dos fenômenos da natureza, os produtos de ESP eram produzidos por seres humanos, e estavam diretamente associados às emoções. "Advinhar" quais cartas seriam escolhidas pela máquina de embaralhar centenas de vezes, não é exatamente o que se pode chamar de um passatempo emocionante.
Fenômenos como o Poltergeist, cientificamente nomeado de SRPK (Spontaneous Recurrent Psicho Kinetics), descobriu-se estar diretamente ligado (em 90% dos casos) a um adolescente perturbado e com dons psicocinéticos. Ou seja emoções em ebulição.
Pirogênese (geração espontânea de fogo), Ideoplastia (como os fenômenos de stigmata-marcas das chagas de Cristo no corpo), xenoglossia (falar em línguas estrangeiras desconhecidas do sujeito) e tantos outros estão diretamente ligados ao transbordamento de emoções.
Como colocar isso na máquina de fazer estatísticas da ciência oficial? Os soviéticos ainda tentaram usar seus sensitivos e paranormais como armas de guerra, mas ao que tudo indica as "pesquisas" tão intensas e promissoras foram suspensas e os laboratórios fechados. A guerra fria esfriou de vez assim como os sujeitos produtores de fenômenos incríveis como Ana Kulagina e Ala Vinogradova que foram postos na geladeira do regime.
Nos EUA alguns cientistas ainda conseguiram obter alguma verba (merrecas em termos de recursos) para prosseguir nas pesquisas de cura energética e comunicação a distância, mas não tenho conhecimento dos seus sucessos.
Como conseguir resultados consistentes quando o motor da "coisa" e algo tão incontrolável quanto a emoção humana?
Pessoalmente sinto-me frustrado porque sempre acreditei no imenso potencial que a energia de sensitivos e psíquicos podem oferecer a nós simples humanos.
Soma-se à frustração, a revolta por não ver nenhum estudioso se levantar contra as medíocres acusações e achincalhe que alguns mágicos levam à midia. A própria mídia tão desinformada e ao mesmo tempo sectária dando espaço para os "caçadores de fraudes", ironicamente eles mesmo a maior e mais flagrante fraude, fruto da ignorância ou má fé (ou dos dois juntos).
Minha conclusão não é porém melancólica. Tenho absoluta convicção acerca do fenômeno, embora não seja ingênuo de achar que não existam fraudes. Elas existem na medicina, na física, na alta pesquisa científica. É próprio da natureza humana burlar. Acredito também que iremos em breve assistir um revival do interesse pelos fenômenos Psi, com a chegada de novos aparatos, bem mais sofisticados e mais sensíveis. Não sei se estarei aqui para presenciar essa nova era, onde os chamados poderes da mente poderão ser vistos por todos e de forma incontestável. Precisamos de tecnologia sim, de novas e mais apuradas máquinas, de mentes mais ativas, mas precisamos acima de tudo explorar em toda a extenção os talentos naturais com que alguns nascem e que sabem desenvolvê-los em outros para o bem e salvação da humanidade.