por Valéria Meirelles
Conforme mencionei no artigo anterior, o próximo seria sobre os animais de estimação, que estão ganhando espaço e regalias cada vez maiores na vida das pessoas, na de suas famílias e na sociedade contemporânea.
Os cães em sua maioria e também os gatos têm feito muito sucesso e são recebidos cada vez mais com extrema aceitação e dedicação por parte dos donos, que chegam a inclui-los e tratá-los como mais um membro da família.
O médico veterinário e doutor em Psicologia Clínica, Mauro Lantzman, explica que o fascínio que os animais causam nos humanos, em especial o cão, é a capacidade de perdoar e continuar ao lado das pessoas, sem abandoná-las. Associado a isso, o comportamento de apego identificado entre o humano e seu cãozinho se mostrou uma relação vantajosa e prazerosa para ambos, pois se tornam companheiros e há troca de carinhos, cuidados, confiança e ajuda.
Nos casos de perdas afetivas, dificuldades físicas, autismo, esquizofrenia, senilidade, depressão, ansiedade, entre outros, essa relação se acentua e o animal se transforma em excelente ajudante para tratamentos mais sérios e de longo prazo.
Prova disso são as inúmeras pesquisas mostrando que os donos de animais de estimação sorriem mais e sofrem menos de estresse e enfermidades. Tanto que são unânimes quanto aos benefícios que as criaturas lhes proporcionam, falando deles com alegria e gratidão.
Hannelore Fuchs, médica veterinária e psicóloga, presidente da Associação Brasileira de Zooterapia, afirma que o contato amistoso e amoroso com o animal de estimação favorece a melhoria da auto-estima, segurança e confiança das pessoas.
Em meu consultório tenho observado os benefícios do animal em adultos e em crianças – hiperativas ou nas mais tímidas – que gostam de conversar com seu bichinho, e aos poucos, exporem suas emoções. Já tive até um peixinho de briga – a pedido de uma garotinha – que fazia questão de cuidar dele durante as sessões, fato que acelerou muito seu tratamento.
Quanto aos cuidados, não há exatamente um "limite" ou jeito único de tratar de seu animalzinho. Os especialistas, no entanto, são unânimes em afirmar que o bem-estar animal é fundamental e Mauro Lantzman enfatiza a importância de o bicho ser motivo de felicidade e não de preocupação na vida das pessoas.
Diante de tantos benefícios, o animal de estimação foi "promovido", nos últimos anos, à categoria de membro da família, alguns recebendo inclusive uma identidade com o sobrenome do dono.
Com tanto prestígio, nada mais natural do que o surgimento de uma outra tendência, uma outra tendência: os serviços, cada vez mais específicos e inusitados.
É comum quem tem um animal e precisa viajar, deixá-lo em hoteizinhos especialmente preparados para cuidar dele enquanto seu dono estiver longe. Há "pacotes" que incluem natação, caminhadas, alimentação especial, acupuntura e até vídeos do período em que o bichinho estava hospedado.
Para os cães, principal filão deste mercado em franca ascensão, há cada vez mais lugares e serviços, como confeitarias, spas, acampamentos, asilos, cemitérios, buffets, psicólogos, "escolinhas" para passarem o dia enquanto seus donos trabalham, hospitais e dentistas, além de planos de saúde.
Alguns hotéis, inclusive no Brasil, já consideram a aceitação de animais em suas dependências. E como a maioria dos donos dos bichinhos gostam de levá-los quando saem ou viajam, há o crescente mercado de malas para transportar animais de forma confortável, para evitar seu estresse.
Uma curiosidade: nos Estados Unidos, segundo Ira Matathia e Marian Salman, há um asilo que se encarrega de cuidar do animalzinho quando o dono morrer, evitando o abandono.
Sem contar os objetos feitos para animais, que de simples caminhas, hoje chegam a roupinhas de grife e coleiras com diamantes. Portanto, os animaizinhos estão podendo usufruir, de acordo com a capacidade financeira de seus donos, do que há de melhor no universo de consumo.
Tudo isso nos faz refletir no quanto as pessoas estão carentes, ou então, pensando por um lado otimista, o quanto estão mais livres para expressarem seu amor a um ser não racional. Confesso que me preocupa a tendência exagerada em humanizá-los. Sei de pessoas que optaram por um cãozinho, após saberem da impossibilidade de filhos biológicos e de outras que optaram pela não maternidade/paternidade e adotaram um cão, pois têm o "benefício" de não crescerem e não darem tanto trabalho quanto uma criança. O que assusta é o lugar de filhos, irmãos e até maridos nos quais tais criaturinhas são colocadas e tratadas.
Sou apaixonada por animais e quero deixar claro que sou sim a favor de se ter animais de estimação, mas é preciso refletir no tratamento exageradamente humano que muitos recebem, especialmente em uma sociedade tão desigual e repleta de crianças solitárias e abandonadas, seja nas ruas ou nos orfanatos, à espera de um mínimo gesto de amor e atenção. Para elas, felizmente, há também uma tendência a ajudá-las: o crescimento do Terceiro Setor.