Embora seja cientificamente provado os inúmeros benefícios de uma boa noite de sono, dorme-se pouco e mal. Veja as notícias mais atuais sobre o sono publicadas pela Revista Science.
A Revista Science (Science Magazine/EUA) publicou recentemente uma série de artigos com as notícias mais atuais sobre o sono. Uma questão científica apontada, e aparentemente óbvia, foi a da necessidade de dormir.
Não se pode fazer experimentos extremos com animas e nem sequer com humanos. Mas com os experimentos possíveis de serem realizados, a conclusão geral é que a privação do sono tem um impacto generalizado no organismo, afetando as capacidades cognitivas.
Estudos com ratos demonstraram que deixá-los sem dormir, debilita seu sistema imunológico. Outros estudos demonstraram que os que ficavam sem dormir, eram incapazes de se lembrar como chegar no local onde estava a comida.
Já uma pesquisa com humanos, revelou que a incidência de demência entre 8 mil funcionários britânicos quando se aposentaram, era maior entre os que reconheceram ter dormido seis horas ou menos nas décadas passadas. Um outro trabalho, esse do Massachusetts Institute of Technology (MIT), demonstrou que os estudantes que dormiam menos, tinham um caminhar pior em uma esteira ergométrica.
Necessidade de dormir possui base biológica forte
Nick Franks, professor do Imperial College de Londres, que participou da edição especial da Science, disse que a necessidade de dormir deve ter uma base biológica muito forte e faz os seguintes comentários: “Evolutivamente, parece que o sono se preservou muito bem, o que implica em uma função básica e essencial à vida, de modo que, quando nos privamos de sono, todo tipo de coisa relacionada à nossa saúde e ao nosso comportamento são prejudicados”. Porém, qual é o mecanismo básico que rastreia quão cansado está o cérebro e quando o sono deve ser ativado? Bem, isso continua sendo um grande mistério.
Consequências de se dormir pouco
Um dos paradoxos da ciência do sono é o de que as provas sobre as consequências negativas da privação do sono se acumularam, mas há mais hipóteses do que evidências sobre as vantagens de uma noite bem dormida. A resposta mais simples e frequente é a que, como outras partes do corpo, o cérebro precisa descansar após um duro dia, depois de ter recebido todo o tipo de estímulo. O problema com essa analogia é que a atividade cerebral não cessa quando se dorme, só é diferente.
Pensando nas questões acima, a pesquisadora Gabrielle Girardeau, do Institut du Fer à Moulin (Paris), disse que nós humanos sabemos que a falta de sono é prejudicial às recordações. Já nos ratos, essa privação afeta a consolidação da memória e acrescenta que: “Basicamente, o cérebro ensaia durante o sono o que aconteceu na vigília” e diz acreditar que esse processo de reativação permite o reforço gradual das lembranças ao longo do tempo.
Pensando no hipocampo, que é uma estrutura crucial à memória de eventos contextualizados (o que, onde, quando ocorreu), reativa padrões neuronais de vigília durante o sono, em eventos curtos coordenados chamados ripples (ondas). Foi nas ripples que a equipe de Girardeau interferiu para que os ratos não se lembrassem do local da comida e finaliza dizendo que tudo isso não pode ser feito acordado com os estímulos do exterior não parando de chegar.
Laura D. Lewis, do Departamento de Engenharia Biomédica da Universidade de Boston, disse que: “a neurociência do sono demonstrou que não há uma razão única pela qual dormimos: o sono tem efeitos incrivelmente amplos no cérebro e afeta tudo, dos processos moleculares à cognição de alto nível”. Lewis demonstra na sua pesquisa que uma das funções de dormir é tirar o lixo do cérebro.
Já em roedores demonstrou-se que são eliminados vários metabolitos durante o sono. E muitos desses metabolitos são gerados pelos neurônios durante a vigília, quando produzem diversos tipos de moléculas de forma natural, enquanto consomem energia e realizam suas funções habituais. Em termos práticos, seria como nos edifícios de escritórios, a limpeza e a manutenção são feitas de noite, quando os outros trabalhadores não estão. Nesse sentido, o sono manteria a saúde fisiológica neuronal.
Se dormir traz tantos benefícios, por que se dorme tão pouco e mal?
A resposta deixo para você leitor, mas dou uma pista, os indivíduos, por necessidades profissionais e pessoais, podem preferir dormir menos. Ou então, quem sabe, algumas pessoas podem decidir que vale a pena fazer concessões e dormir menos do que o recomendado pelos especialistas. Aproveito e faço outra pergunta: a que horas as crianças se deitam hoje em dia?