Voltar a fazer sexo após o luto é uma questão muito individualizada: para uns mais rápida e para outros quase eterna; entenda o que significa ficar de luto, um caldeirão de sentimentos contraditórios
E-mail enviado por uma leitora:
“Casei aos 19 anos, vivemos 22 anos juntos e, há um mês, meu esposo faleceu. Sinto muita falta de ter com quem conversar, da presença dele comigo, e de sexo. Quanto tempo após a perda, seria o ideal retomar o sexo?”
Resposta: O tema trazido por você parece ser o luto e os sentimentos que o rodeiam. Luto é uma vivência muito individualizada. Para uns mais rápida, para outros quase eterna.
Você viveu uma perda grande. Perdeu, precocemente, uma pessoa junto da qual praticamente construiu sua identidade. Afinal, aos 19 anos, quando se casou, você mal tinha saído da adolescência.
Certamente essa perda põe em xeque todos os seus sentimentos que, neste momento, devem aflorar de forma confusa. Ao mesmo tempo em que sente tristeza, angústia, revolta e tantos outros, afloram sentimentos, aparentemente incompatíveis com uma perda; aflora o desejo de continuar vivendo. Afinal, ele se foi mas você não. Dessa forma, aparece a vontade de poder trocar ideias com alguém muito próximo, sentir-se protegida e, por que não, retomar sua vida sexual.
Quanto tempo após o luto posso voltar a fazer sexo?
Sua pergunta parece quase um pedido de autorização para poder voltar a sentir os prazeres da vida, e a resposta mais lógica a essa pergunta parece ser: por que não? A vida é sua. É você que vai determinar como quer conduzi-la daqui para frente. Pode retomar seus desejos, seus planos e seus objetivos quando se sentir preparada para isso. Não existe nada nem ninguém com mais propriedade para determinar quando será este momento do que você mesma.
O que significa estar de luto?
Estar de luto não significa, necessariamente, afastar-se de qualquer situação agradável para mergulhar num mar de lágrimas. Muito pelo contrário. As fases do luto são feitas de momentos que passeiam pela memória sem uma ordem lógica, cronológica ou emocional. Tudo se mistura num grande caldeirão onde as lágrimas formam a base para uma sopa de sentimentos dos mais diversos sabores. É no luto que se aprende a rir e chorar ao mesmo tempo. Rir dos bons momentos, chorar a perda, revoltar-se contra o imponderável. Mas é do luto que se renasce. Afinal, a vida é um ciclo de infinitos inícios e finais.
Sua confusão sobre o reinício da sexualidade após a perda de seu marido está, provavelmente, ligada ao fato de sexo estar vinculado, no imaginário social, ao prazer, à luxúria, aos sentimentos que, em teoria não “combinam” com o luto.
Lembre-se, porém, que assim como ninguém é capaz de sentir em toda a sua intensidade a dor que você está sentindo, ninguém é capaz de adivinhar o que você deve fazer para aliviar essa dor. Se a necessidade de um ombro amigo alivia, procure o ombro; se a presença física de pessoas conforta, procure as pessoas; se um contato sexual a estimula, procure esse contato. Sem julgamento, sem culpa. Nesse momento ninguém saberia cuidar melhor de você do que você mesma.
Aos poucos as coisas ficarão mais claras em sua cabeça e em seu coração. Certamente você ainda viverá muitas alegrias e muitos prazeres. Mas nesse momento tão difícil, você tem a oportunidade de olhar para dentro de si mesma e buscar um entendimento maior do funcionamento do seu lado emocional. Alie-se aos seus sentimentos, aceite-os e encare-os como a diretriz para todos seus passos, seus atos, suas decisões.
Quem se conhece pode enfrentar a vida de uma forma mais coerente e consistente. Conhecer e aceitar nossos sentimentos e pensamentos nos encaminha para uma relação melhor com alguém que sempre estará ao nosso lado e nunca nos abandonará: nós mesmos.
Atenção!
Esta resposta (texto) não substitui uma consulta ou acompanhamento de uma psicóloga e não se caracteriza como sendo um atendimento.