por Thaís Petroff
É comum encontrar pessoas que têm uma sensação bastante desconfortável de vazio interno, mas inúmeras vezes elas não têm muita consciência disso ou não sabem o que fazer para resolver essa questão.
Muitos quando entram em contato com esse desconforto acabam tentando preenchê-lo com sexo, drogas ou aventuras ou ainda apegando-se a um relacionamento ou religião. Desse modo a busca se dá externamente e, logicamente acaba sendo falha, já que nada externo poderá preenchê-lo plenamente.
Esse vazio provém da combinação de dois fatores:
– A falta de você mesmo;
– A supressão de seu impulso interior.
Se você se empenhar em trabalhar esse dois pontos (sozinho ou em um processo terapêutico), se sentirá livre dessa angústia e de todo mal-estar relacionado a ela.
A falta de você mesmo = vazio existencial
A falta de si gera uma sensação de que falta algo na vida. Isso pode levar à compulsão pela busca de alguma coisa que o preencha ou achar que a solução será quando fizer determinada coisa como: ganhar mais dinheiro ou ter mais status, estudar mais, ter mais amigos, casar-se, emagrecer etc. Alcançar esses objetivos pode momentaneamente trazer bem-estar e alguma tranquilidade, mas será por pouco tempo, já que a inquietação da falta e a angústia logo retornarão. A única maneira de preencher esse vazio existencial é preenchendo-se de si mesmo, vivendo para si mesmo.
Mas o que exatamente significa “viver para si mesmo”?
Evidentemente, não significa ser egoísta ou se isolar do mundo. Há inúmeras coisas que precisamos fazer no dia a dia para sobrevivermos tais como: ganhar dinheiro para pagar as contas, ser agradável com pessoas as quais você não tem muita afinidade ou não gosta, resolver problemas de diversas ordens, comer, dormir etc. Todas essas coisas são importantes, mas não são estas que trazem sentido para nossa vida. Elas são obrigações e, se ficarmos somente nelas, nos sentiremos cada vez mais esvaziados de nós mesmos.
Viver para si mesmo é deixar um espaço entre todas essas tarefas para você fazer as coisas que faz por prazer, aquelas coisas que te trazem bem-estar, aquilo que que você se sente pleno quando está fazendo, onde perde muitas vezes a noção do tempo e das coisas à sua volta. Nesses momentos você está realmente em contato consigo mesmo, não no automático do dia a dia que trata-se de distração, de sobrevivência já que você está distante de si.
Podemos nos sentir em contato com nossa essência pintando, escrevendo, correndo no parque, ensinando, cozinhando, compondo uma música ou tocando algum instrumento etc.
Com um mínimo de autoconhecimento cada um pode procurar em sua vida quais são as coisas que faz, porque realmente deseja e não por que alguém mandou ou por que irá agradar alguém ou ainda porque isso trará mais dinheiro.
Sêneca, um pensador romano que viveu há cerca de dois mil anos, certa vez disse:
“Não temos exatamente uma vida curta, mas deperdiçamos uma grande parte dela. A vida se bem empregada, é suficientemente longa e nos foi dada com muita generosidade para a realização de importantes tarefas. Ao contrário, se desperdiçada no luxo e na indiferença, se nenhuma obra é concretizada, por fim, se não se respeita nenhum valor, não realizamos aquilo que deveríamos realizar, sentimos que ela realmente se esvai.”
E se você sente que não encontra nada que te agrade e te faça sentir-se em paz? O que fazer?
Eis que chegamos ao segundo item gerador de angústia: a supressão de seu impulso interior.
Diga-me, com sinceridade:
Como seria a sua vida se você não tivesse essa inquietação no coração?
É justamente esse desconforto que você sente que faz com que você se mova em direção a algo e não se acomode. É possível que se não houvesse essa inquietação, você aceitasse o que a sociedade impõe e vivesse quietinho com isso. O sofrimento vem justamente por conta disso, de tentar se encaixar em algo que não lhe serve, de procurar se adequar a realidades que não lhe satisfazem realmente ou de estar buscando em situações que não vão ao encontro de sua verdade.
Se tentamos “enjaular” essa inquietação tentando viver como “todos” podemos nos deprimir, pois estamos negando um impulso vital que está justamente nos obrigando a nos mexermos em direção a algo. Por outro lado, se o aceitamos e utilizamos essa força para empreender uma jornada em direção à nossa verdade, à nossa essência, teremos a oportunidade de encontrar tesouros dentro de nós, já que as respostas sempre estão em nosso interior, mesmo que ainda não saibamos quais são.