Vício em masturbação requer ajuda médica, mas para isso, evite a vergonha. Saiba se você está viciado e veja formas de lidar com o problema

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“Olá, tenho 58 anos e estou solteiro há três anos. Não consigo passar um dia sem me masturbar acessando sites de pornografia. Tem dia que me masturbo duas vezes e mais raramente três vezes em um dia. Isso já caracteriza vício em sexo? Há algo de errado comigo? Caso precise de tratamento, que profissional preciso procurar… um psiquiatra ou psicólogo? Se puderem me responder fico muito agradecido.”

Resposta: Masturbação é uma prática comum tanto entre homens quanto entre mulheres, fazendo parte da sexualidade normal. No entanto, quando alguém desenvolve um padrão compulsivo de masturbação, com perda do controle sobre esse comportamento e sentimento de culpa, várias consequências indesejáveis podem acontecer.

Krafft-Ebing, um eminente psiquiatra nascido na Alemanha, já no século XIX, descreveu clinicamente a “satiríase” como um dos quadros de “hiperestesia sexual”, no qual o homem procura gratificação sexual a qualquer preço, abandonando-se à prática do onanismo e de diversas atividades sexuais. Correntemente, através de denominações diversas, a dita “satiríase” tem sido descrita através de termos diversos, tais como: dependência de sexo, Impulso Sexual Excessivo e, mais recentemente, Transtorno do Comportamento Sexual Compulsivo.

Vício em masturbação não ocorre da noite para o dia

Alguns autores afirmam que a masturbação excessiva não é um comportamento que surge subitamente. Ele é insidioso e vai provocando o afastamento do indivíduo compulsivo de outras pessoas. Sentimentos de vergonha, solidão, vazio, estresse, descontrole são praticamente denominadores comuns entre os compulsivos. Também, os masturbadores compulsivos podem deixar de desenvolver outras atividades importantes na vida em função da prática sexual.

Outrossim, autores têm associado o surgimento da masturbação compulsiva com experiências nefastas na infância do portador, como diferentes formas de abuso e negligência. A inabilidade para driblar problemas pessoais e a ansiedade resultante podem contribuir para o descontrole.

Apesar da existência de conceitos pouco validados em relação ao diagnóstico clínico, o consenso científico revela que pessoas que padecem desse problema apresentam recorrentes, intensos e frequentes pensamentos ou comportamentos sexuais que provocam prejuízos funcionais e sofrimento clinicamente significativo em um ou mais aspectos da vida.

A masturbação excessiva é uma das manifestações do que se chama “dependência de sexo”, “impulso sexual excessivo”, ou, mais recentemente, “transtorno do comportamento sexual compulsivo.”
O que caracteriza o vício em sexo?

Os comportamentos de uma pessoa sexualmente compulsiva podem ser caracterizados pelos seguintes passos, formando um ciclo que se repete constantemente:

a) Preocupação antecipatória: o indivíduo apresenta pensamentos recorrentes sobre sexo, com sensação de ansiedade, excitação, “transe”;
b) “Ritualização”: o indivíduo estabelece rotinas especiais que o conduzem às atividades sexuais. Por exemplo, tranca a porta do escritório e acessa materiais pornográficos; inventa uma história no trabalho ou em casa, pega o carro e dirige-se a locais mais ou menos conhecidos para atividades sexuais;
c) Ato sexual propriamente dito ou também chamado “gratificação”;
d) Sensação de vazio, impotência ou desespero: o indivíduo comumente sente que mais uma vez não conseguiu controlar seu comportamento sexual. No entanto, esses sentimentos negativos no final do ciclo podem ser obscurecidos em alguns indivíduos, porque o início do ciclo recomeça muito rapidamente.

A busca por excitação entre pessoas com quadros de dependência de sexo é bastante similar à de outras síndromes de dependência de drogas. O indivíduo demonstra perda do controle sobre o comportamento, sensação de ansiedade e irritação quando não desempenha o comportamento, progressivo aumento da “ritualização”, diminuição do repertório de outras atividades prazerosas, prejuízos pessoais, familiares, sociais e no trabalho em decorrência disso.

Diagnóstico para dependência de sexo

Tendo em vista a semelhança comportamental entre esses indivíduos e aqueles dependentes de drogas, foram já ventilados critérios para o diagnóstico da Dependência de Sexo, baseados nos próprios critérios utilizados para o diagnóstico da Síndrome de Dependência de Substâncias (Goodman, 1990). Abaixo, elenco os critérios já aventados para um diagnóstico:

Padrão de comportamento recorrente, ocasionando desconforto ou comprometimento clínico significativo, que se manifesta por três (ou mais) das seguintes características, persistentes por um período de 12 meses:

Envolvimento frequente em atividades sexuais por mais vezes ou durante tempo maior que o pretendido inicialmente;

Tentativas malsucedidas de redução ou controle desse comportamento sexual;

Gasto excessivo de tempo em atividades relacionadas a esse comportamento sexual;

Desistência de outras atividades sociais, ocupacionais ou recreativas em decorrência desse comportamento sexual;

Continuidade da atividade sexual apesar de frequentemente apresentar problemas sociais, financeiros, psicológicos ou físicos causados por esse comportamento;

Necessidade progressiva de aumentar a frequência ou a intensidade dessa atividade sexual para obtenção dos mesmos níveis de prazer;

Inquietação ou irritação diante da impossibilidade de exercer essa atividade sexual.

Dentre aqueles portadores de Impulso Sexual Excessivo sem pensamentos sexuais desviados, podemos reconhecer diferentes manifestações, tais como:

a) Intenso e descontrolado consumo de pornografia e prostituição;
b) Masturbação compulsiva;
c) Internautas sexuais (cybersex addicts), dentre outros.

Em algumas situações, tanto as fantasias sexuais desviadas quanto as convencionais combinam-se em uma mesma pessoa.

Também, é importante considerar que pessoas que padecem de Dependência de Sexo comumente demonstram outros transtornos psiquiátricos comórbidos, como Transtornos do Humor e Ansiosos, dependência de álcool e outras drogas, transtornos da personalidade.

É fundamental a avaliação médica e psicológica rigorosa objetivando o diagnóstico correto e a proposta terapêutica mais adequada possível e sempre baseada em evidência científica de efetividade. Naturalmente, o masturbador compulsivo deve evitar a vergonha relacionada ao comportamento e revelar o fato ao profissional médico especializado.

Apesar das dificuldades para se desenvolver pesquisas epidemiológicas nessa área, aventa-se que cerca de 3 a 6% dos homens (nos Estados Unidos da América) sofrem desse quadro. Infelizmente, poucos procuram tratamento médico e psicológico especializado, por várias razões:

a) Não sabem ou não reconhecem que o comportamento pode ser produto de uma doença ou transtorno mental;
b) Têm vergonha de revelar seus comportamentos sexuais para seu médico;
c) Têm medo da exposição social ou familiar.

Vício em sexo: maioria das pessoas demora a procurar ajuda

Maioria das pessoas só procura ajuda quando já enfrenta problemas na família, no trabalho ou na Justiça.

Na minha prática diária, muitas das pessoas com quadros de comportamentos sexuais compulsivos procuram o atendimento especializado, quando elas são descobertas por membros familiares ou quando já apresentam problemas na Justiça ou no trabalho.

Existem várias formas de tratamento para pessoas que padecem desse transtorno: terapia cognitivo-comportamental, psicofarmacoterapia e grupos de mútua-ajuda. O grupo de mútua-ajuda conhecido como DASA (Dependentes de Amor e Sexo Anônimos) tem sido de grande auxílio para muitas pessoas que padecem desse problema.

Em algumas situações, o portador do comportamento sexualmente compulsivo não consegue controlar suas fantasias e práticas sexuais apenas com o tratamento psicoterapêutico e psicossocial, necessitando de abordagem farmacológica.

Existem medicações que ajudam o paciente a controlar o comportamento compulsivo. Atualmente, as mais prescritas são os antidepressivos inibidores da recaptura da serotonina. De qualquer forma, a utilização das medicações deve sempre ser associada com o tratamento psicoterapêutico, tendo em vista a multiplicidade de fatores relacionados com o comportamento.

Será que sou viciado em masturbação?

De uma forma geral, verifique se o seu comportamento masturbatório está:

a) causando problemas na sua vida pessoal, social, familiar, laboral etc;
b) apresentando-se além do seu controle, ou seja, você está com dificuldades para reduzir a prática ou torná-la inócua.

Se você respondeu SIM a estes itens, procure orientação médica especializada.
Boa sorte !!!

Referência
Krafft-Ebing, R. von. (1904). Text-book of insanity, based on clinical observations for practitioners and students of medicine . Philadelphia, Davis.

Atenção!
Esta resposta (texto) não substitui uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra e não se caracteriza como sendo um atendimento