Transtorno Opositivo Desafiador – TOD: já ouviu falar?

O Transtorno Opositivo Desafiador — TOD — é classificado no Manual Estatístico de Doenças Mentais (DSM-5) da Associação Americana de Psiquiatria (APA), como parte dos Transtornos de Comportamento Disruptivo; entenda

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade e o Transtorno de Conduta, pertencem ao mesmo grupo de transtornos e, não raro, estão associados.

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Transtorno Opositivo Desafiador – TOD: comportamentos

Manifestações constantes de raiva, incapacidade de lidar com frustrações e com contrariedades, presença de comportamentos agressivos, desafiantes, negativistas, de teimosia, de insubordinação e de desobediência, em todos os ambientes e principalmente diante de figuras de autoridade, caracterizam a criança e o adolescente com TOD. Além disso, nessas pessoas observa-se a dificuldade com a aquisição das habilidades sociais. Elas não sabem fazer trocas afetivas com seus pares, por não conseguir levar em consideração as necessidades e os desejos deles.

A hipótese de TOD só pode ser confirmada quando os sintomas causam prejuízos significativos na vida do sujeito, pois cumpre assinalar que as crianças e os adolescentes podem apresentar comportamentos desse tipo em algum momento da sua vida e não ser TOD. O aparecimento e desenvolvimento desse transtorno parecem ser devidos a fatores genéticos e epigenéticos, mas é sabido que o ambiente familiar e o tipo de criação dada pelos pais, contribuem significativamente para o desencadear do TOD.

Parece existir um risco genético ao TOD e a presença de comorbidades, como os transtornos de atenção. Isso deve ser levado em consideração, mas as disfunções familiares e escolares, sem dúvida, são fatores importantes nessa patologia.

Na atualidade, observa-se um aumento importante desse transtorno. Mais de 150 mil casos são estimados por ano no Brasil. Os pais procuram profissionais de ajuda para seus filhos, por indicação das escolas, dos familiares, pois o comportamento deles sempre questionador, desafiador, agressivo, desobediente, muitas vezes cruel e vingativo, incomodam muito aos outros e deixam os pais exaustos e envergonhados. A busca de orientação e de tratamento adequados é necessária para que se evite prognósticos ruins.

Filhos precisam desenvolver o apego seguro

Se os comportamentos de birra e de negativismo nas crianças de 2, 3 anos podem ser vistos até como desejáveis, pois têm o significado de primeira busca de autonomia, tais comportamentos em uma criança maior e em um adolescente chega a ser grotesco. Os filhos, desde o nascimento precisam de amor, cuidados, continência para que possam desenvolver o que se chama de apego seguro. É a experiência do apego seguro com os cuidadores primários que irá garantir a possibilidade de relações interpessoais confortáveis e reforçadoras ao longo da vida. Amor e cuidados, todos os pais bem-intencionados sabem garantir.

Entretanto, a continência parece lhes ser mais difícil, até de precisar, nos tempos atuais. Dar continência significa dar limites e isso, volto a repetir, é muito necessário desde o início da vida. Apenas no útero a criança pode ter a satisfação imediata de suas necessidades, depois não. Ao sentir fome e desconforto, ela chora para ser atendida e vai aprendendo pouco a pouco, com o tempo, a aguentar esperas. No mínimo, nessa fase, ela tem que esperar a mãe chegar até ela. Na nossa cultura, que associa choro com sofrimento, em geral a mãe corre até o bebê, pois ele não pode esperar. O bebê se transforma em criança, em adolescente e esse tipo de atendimento às suas demandas continua, isto é, o atendimento imediato às suas necessidades e, não só isso, também o atendimento imediato a todos os seus desejos e quereres.

Pais reféns dos filhos

Observo pais, que não assumem a figura de autoridade em suas casas, que não sabem dar continência aos seus filhos e se tornam reféns deles. Parecem ter medo de causar-lhes frustrações, muitas vezes, por medo de deixarem de ser amados. Mas, não é dessa forma que se ganha o amor de um filho. Para serem amados, os progenitores precisam ser respeitados e admirados. Precisam ser sentidos por seus filhos como pessoas fortes, seguras e resilientes, como figuras de autoridade e como bons modelos para identificação.

Pais precisam colocar limites a seus filhos. Precisam ter coragem de dizer não quando necessário e de manter o “não””. É muito fácil dizer sim, pois temporariamente agrada o filho. Dizer “não” é difícil, dá trabalho, porém é importante considerar que o “não” bem dado ensina à criança a aguentar frustração, a tolerar esperas, a obedecer e a usar sua inteligência para buscar fontes alternativas e mais viáveis para ter seus desejos satisfeitos. Sabe-se que o “não” é o primeiro organizador da vida psíquica.

Distúrbios familiares constituem fatores importantes no TOD e, na atualidade, os erros na criação e educação das crianças e adolescentes, ao ficarem pais, familiares e professores reféns dos desejos deles, podem estar favorecendo muito o desencadear do TOD.

É psicóloga especializada em psicoterapia de crianças e adolescentes. Mestre em psicologia clínica pela PUC-SP, Doutora em Distúrbios da Comunicação Humana pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, professora do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica da PUC e autora de vários livros, entre eles 'Pais que educam - Uma aventura inesquecível' Editora Gente.

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