O desconforto pode ser construtivo e ser pensado como um meio para um fim
O fato é que ao longo de nossas vidas, e não só no período de quarentena (motivada pela Covid-19), as pessoas tiveram que se reinventar, readequar-se e desenvolver novas habilidades para continuar a executar não só as antigas rotinas, mas principalmente as novas.
Mas, em sã consciência, não é nada fácil para a maioria das pessoas mudar hábitos, comportamentos, formas de pensar e ter que gerenciar um turbilhão de emoções. Assim, a ideia hoje é falarmos do desconforto emocional e da importância de fazermos o que não queremos.
Pense em alguma coisa que você realizou ao longo de sua vida, algo que você tenha feito e foi importante para você, como aprender uma habilidade, formar-se em uma profissão, ajudar um amigo ou membro da família em necessidade ou superar um obstáculo que lhe parecia quase impossível. Agora pergunto: o quanto de desconforto estava envolvido?
Meu palpite é o seguinte: adquirir uma habilidade (como aprender um idioma novo, tocar um instrumento musical ou desenvolver uma capacidade atlética); isso certamente demanda tempo, frustração e desconforto. Enfim, exige ter que fazer uma coisa difícil.
Tal raciocínio também pode ser aplicado no caso da superação da ansiedade, que requer tolerar o desconforto que ela causa enquanto você busca os objetivos valorizados. O que quero dizer, é que se quiser superar o medo de voar, você precisa voar enquanto está ansioso. Se quiser ter um relacionamento íntimo significativo, terá de tolerar algum desconforto, decepção e frustração. O fato é que nem sempre as coisas acontecem do jeito que queremos.
A essa altura você pode estar dizendo: “já estou desconfortável – por que preciso ter mais desconforto?”. Isso é compreensível. Mas não estou falando em tolerar desconforto para atingir os objetivos valorizados. Isso é construtivo na medida em que se reconhece que tornar as coisas melhores, envolve sentimentos desconfortáveis.
Quando você fala com alguém que está estudando balé e lhe pergunta: “Como foram seus exercícios?”, essa pessoa diz: “Bom, doeu bastante”. Em outras palavras, aquele foi o desconforto certo – foi um desconforto que refletia o sentimento de se esforçar ao máximo, fazendo o exercício necessário. E ela podia sentir. Era o desconforto que tinha um propósito – era um desconforto construtivo.
Pense no desconforto com um meio para um fim
Você vai precisar tolerar o desconforto para atingir os seus objetivos. Pense no desconforto como um investimento em você mesmo: “Vou tolerar o desconforto para construir meu futuro”. Pense sobre o desconforto como uma ferramenta: “Vou usar meu desconforto para obter o que desejo na vida”.
Então lhe pergunto, você está disposto(a) a tolerar desconforto, como? Quais são as coisas desconfortáveis que estaria disposto(a) a fazer?
Enquanto você pensa para responder as perguntas acima, vamos continuar nossa reflexão. Progredir na vida envolve fazer coisas que não queremos. Vamos pegar o exemplo da perda de peso. Apesar de todas as dietas e teorias que existem por aí. Na verdade, perder peso se resume a consumir menos calorias e queimar mais, simples assim, matemática pura. Então pergunto: o que você está disposto(a) a fazer para atingir seus objetivos? Está disposto(a) a fazer o que precisa ser feito?
A questão não é: “O que você quer fazer?”. A questão real é: o que você está disposto(a) a fazer”. Se for honesto(a) sobre o que quer fazer, talvez você dissesse que quer fartar-se de comida e ficar deitado no sofá consumindo alimentos não saudáveis, tomando cerveja e vendo vídeos. Mas progresso significa fazer o que você não quer para que possa obter o que deseja.
Mas… ao afirmar que não queremos fazer determinada coisa. “Não quero estudar.” “Não quero me exercitar.” “Não quero correr o risco.” É como se achássemos que a vida seria ótima, gratificante e significativa se fizéssemos apenas o que desejássemos. Mas, infelizmente, progresso e vida real significa fazer o que não se quer. Uma vida melhor não acontece simplesmente. Ela é consequência do que escolhemos fazer – ou não fazer.
Por que você deveria fazer o que não quer? Porque é assim que vai atingir seus objetivos. Depois que se disciplinar; depois que estiver disposto(a) a escolher o que precisa ser feito para atingir seus objetivos; depois que estiver a cargo de si mesmo, você se sentirá fortalecido(a).
Então, aproveitando que estamos de quarentena e iniciando um novo ano, pensem nas perguntas que proponho. Desse modo, quero que você chegue ao ponto em que diga com orgulho: “Eu faço as coisas difíceis”.
Para saber mais veja: Leahy RL. Não acredite em tudo que você sente. Porto Alegre: Artmed. 2021.