Como manter a funcionalidade e a sanidade neste momento da pandemia?
Tempos difíceis! A tão esperada vacinação que nos permitiria retomar a vida normal já começou. No entanto, os números de mortos, hospitalizados e infectados está cada vez maior. Parte de nossa população se comporta como se não houvesse epidemia; negacionista espelha e multiplica as atitudes de nosso presidente. Outra parte experimenta nuances diferentes entre o terror absoluto e o desespero.
Um ano de pandemia, um ciclo que esperávamos fosse encerrado, deu início a um outro, ainda mais grave e letal. E com ele, a desesperança tomou conta de nossas vidas. Nós e nossos pacientes experimentamos um desalento, uma tristeza sem lugar, uma sensação difusa, como se a vida estivesse em ritmo de espera.
Nossos atendimentos continuam, em sua maior parte, de forma virtual. Formato possível, mas, ainda para muitos, desafiador. Pacientes têm chegado com uma tristeza profunda, dessas de fazer chorar por “qualquer coisa”, não se reconhecem, acham que há algo de muito errado com eles. “Estou descompensado”, dizem alguns. “Preciso procurar um psiquiatra?” perguntam outros. “Talvez seja depressão o que estou sentindo”, divagam alguns.
Como cuidar da vida
Assim, está difícil nomear o que vivemos, colocar em palavras a impotência cotidiana que sentimos. Como cuidar da vida se não podemos fazer planos, organizar metas. Obrigados a permanecer no dia a dia, lamentamos a impossibilidade de vivenciar os sonhos, cada vez mais distantes. Estamos sendo forçados a viver a máxima do aqui-e-agora, única certeza possível.
Muitos pacientes relatam uma vida funcional, sem nenhuma perda significativa, sentindo-se, mesmo assim, assolados pela desesperança. Cansados de acompanhar os noticiários que repetem a cada dia os números cada vez mais assustadores da pandemia, isolam-se em busca de um espaço seguro, no qual possam repousar, e funcionar. Sabem, no entanto, que essa é uma solução passageira, a realidade está aí e não há como fugir dela. Como manter a funcionalidade e a sanidade neste momento? Esta pergunta surge a cada encontro.
Buscamos em nossos consultórios acolher a dor e trabalhamos pela transformação possível de nossos pacientes. O isolamento social, tão necessário, tem trazido grandes sofrimentos na medida em que interrompeu a vivência de muitos dos laços afetivos que sustentavam a vida. Não foi apenas a vida lá fora a estancar, foi também em muitos casos a nossa vida, aqui dentro a permanecer suspensa por um fio.
Como seguir em frente neste momento tão difícil?
Andamos na corda bamba, todo cuidado é pouco! Para manter a coerência, a possibilidade de seguir caminhando, é preciso fazer uma conexão com nosso eu mais profundo, com nosso lugar próprio de sustentação, é preciso encontrar o ponto de equilíbrio interno, nosso centro, nossa raiz. Só assim conseguiremos sair da desesperança e seguir como um equilibrista dando um passo de cada vez, apostando na flexibilidade, sem perder a inteireza e contato com o eu mais profundo.