Há idade certa para falar sobre drogas com os filhos?

Falar com o filho sobre drogas deveria ocorrer antes que ele experimentasse. Alguns especialistas sugerem a idade adequada; veja no post. E mais: 10 dicas para abordar o assunto

E-mail enviado por uma leitora:

“Sou mãe de duas crianças pequenas. Tenho trauma e horror de drogas, pois vi meu irmão acabar com a vida dele por conta, primeiro, do consumo de maconha e álcool e depois de cocaína e crack. Hoje, depois de diversas recaídas e internações, ele vive isolado num quarto deprimido e dorme muito e fisicamente está acabado. Contei tudo isso, pois quero evitar a qualquer custo que meus filhos possam vir a experimentar algum tipo de droga. Há uma idade certa para conversar sobre isso com eles? Como devo proceder?”

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Resposta: Existem vários manuais e livros sobre o tema “Como conversar com seus filhos sobre o uso de drogas”. O primeiro fato aqui é que não existem regras absolutas sobre isso. Mas existem sugestões que podem ou não produzir efeitos positivos.

Na prática clínica diária, não é incomum pais afirmarem que fizeram tudo “certo”, mas não conseguiram evitar o envolvimento dos seus filhos no temido palco das drogas. Ocorre que existem tanto fatores de proteção quanto fatores de risco para o uso de substâncias psicoativas entre jovens, conforme já foi escrito há poucas semanas nesta coluna do Vya Estelar.

Também é comum recebermos mensagens de pais que repisam ter seguido à risca as ditas “sugestões”, e não obtiveram os resultados desejados. O segundo fato é que as famílias são heterogêneas e elas precisam formatar as ditas “sugestões” de acordo com as suas particularidades. Muitas vezes, os profissionais da saúde especializados precisam ser consultados ao vivo e em cores a fim de auxiliar nesse direcionamento e formatação. Não basta apenas o www.

Reforce os acertos e aprenda com os erros

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Dito isso, vamos comentar sobre as “sugestões”. É preciso estar alerta tanto aos fatores de risco quanto aos fatores de proteção. Erros e acertos ocorrerão; reforçar os acertos e aprender com os erros podem ser boas alternativas.

Um dos principais fatores de proteção contra o uso de substâncias psicoativas por adolescentes e adultos jovens é o estabelecimento de uma forte conexão com seus pais. Quando os pais criam um ambiente aberto para a conversação e troca de ideias, quando os pais exercem seus papeis de influenciadores positivos sobre os comportamentos dos filhos, existe uma boa chance de proteger os jovens.

Como conversar com seus filhos sobre drogas

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Os pais precisam conversar com seus filhos sobre os problemas relacionados com o uso de álcool e de outras drogas. Caso os pais não o façam, outras pessoas certamente o farão de maneira, digamos, não muito amistosa.

Iniciar conversações com os filhos sobre álcool e outras drogas deveria ocorrer antes que o jovem tivesse acesso a quaisquer substâncias psicoativas. Alguns autores sugerem a idade entre 8 e 9 anos. Contudo, um bom canal de comunicação deve sempre estar aberto em qualquer fase da vida.

Não há regras

Não há regras sobre como falar com os filhos sobre drogas; há sugestões. Ouvir e ser ouvido, estabelecer limites claros, evitar melodramas e chiliques.

Sem medo

Não tenha medo de conversar com o seu filho sobre o consumo de bebidas alcoólicas e de outras drogas, de forma clara e franca. Desse modo, sua opinião deve sempre ter valor e ser firme, mesmo que ele mostre algum tipo de desdém.

Sempre durante a conversa, certifique-se de que tanto você quanto o seu filho estão sendo ouvidos e têm a chance de externar opiniões. Converse com ele sobre as consequências do consumo de bebidas e outras substâncias na escola, no trabalho, enquanto pratica esportes ou desempenha outras atividades.

Mantenha o vínculo, mas respeite a liberdade

Mantenha o vínculo com o seu filho, respeitando a liberdade dele para que ele não ache que você está tentando controlá-lo ou reprimi-lo. Quanto mais próximo do seu filho, menos ele cederá às pressões do grupo.

Você deverá ter alguns fatores ao seu favor, tais como:

  • O bom e adequado relacionamento com o seu filho e confiáveis informações sobre o consumo de bebidas alcoólicas e outras drogas nessa faixa etária.
  • O conhecimento de boa qualidade associado com a adequada vinculação com o seu filho contribuirão para um melhor desenlace.

É importante saber como está o desempenho do seu filho: na escola, nos relacionamentos e demais atividades. Além disso, quais estão sendo os modelos seguidos pelo jovem, quais estão sendo as suas principais dificuldades (relacionamentos, amigos, desempenhos), como estão sendo desenvolvidas as suas expectativas, como o seu pensamento/ideia está sendo organizado.

10 sugestões de sobre como abordar o assunto com seus filhos

1ª) Tente facilitar a comunicação com os seus filhos, sendo honesto consigo mesmo promovendo a honestidade no diálogo. Seja assertivo!

2ª) Mostre que você se preocupa com o bem-estar dos seus filhos. Falar não basta: é preciso demonstrar a sua preocupação e cuidado;

3ª) Tenha atividades de lazer com os seus filhos. Aproveite para ouvir e contar histórias;

4ª) As conversas entre os pais e filhos devem ser no estilo “ganha-ganha”, ou seja, ambas as partes aprendem sobre o que foi conversado;

5ª) Procure acompanhar o crescimento dos seus filhos, respeitando a individualidade e a privacidade deles. No entanto, saiba estabelecer limites claros, especialmente no que concerne ao uso de substâncias;

6ª) Procure ser participativo, conhecendo os amigos dos seus filhos, os pais destes;

7ª) Durante as conversas sobre drogas, seja transparente quanto à sua preocupação e o seu posicionamento. Você quer que os seus filhos se respeitem, que eles não comprometam a saúde física e psicológica. Você tem antecedentes familiares de problemas com o uso de substâncias. Seja verdadeiro!

8ª) Seja visível e disponível. Converse com os seus filhos cara-a-cara;

9ª) Estimule a participação de todos os membros da sua família em atividades esportivas, religiosas, educativas, artísticas;

10ª) Seja exemplo. Todos temos falhas e não precisamos nos envergonhar delas. Precisamos aprender com elas e consertá-las;

Professor Livre-Docente pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Professor de Psiquiatria do Centro Universitário Faculdade de Medicina do ABC. Pesquisador nas áreas de Dependências Químicas, Transtornos da Sexualidade e Clínica Forense.