Meu namorado é megaintrospectivo. O que faço?

Nem sempre pessoas introvertidas se sentem mal por serem como são. Muitas vezes, o fato de serem mais observadores do que falantes, lhes traz uma sensação de proteção e bem-estar.

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“Olá! A primeira coisa que notei em relação ao meu namorado, foi perceber que ele é megaintrospectivo, não é uma pessoa que tem muito diálogo, tanto por mensagem e pessoalmente. Sinto que o papo não flui. Isso em todos os assuntos. Já falei que isso me incomoda e nada mudou. Até evito falar com ele via WhatsApp, porque as respostas dele são curtas… Logo percebi que pessoalmente ele também é assim. Quando estamos em família conversando, e alguém pergunta o que ele acha sobre devido assunto, ele não é capaz de opinar, fica retraído. Algumas pessoas da família dele me disseram que no outro relacionamento, ele não se comunicava com quase ninguém. Já conversei sobre coisas do interesse dele, só nessas coisas o assunto flui: consigo ouvir uma opinião, entender o que ele pensa. Quando estou passando por problema com meus pais, na faculdade, ou qualquer situação ruim que me acontece, comento com ele sobre, e em quase todas as situações, ele diz pra mim: “vai ficar tudo bem, fique calma”. Enfim, ele nunca se expressa, não fala. Como se não bastasse essa neutralidade, ele também age assim diante das coisas que acontecem na vida dele. Logo, nunca consigo compreendê-lo. Não sei o que fazer…”

Resposta: A introversão parece ser uma característica bastante pronunciada em seu namorado. Essa característica incomoda muito você, mas não fica claro se ele também se sente incomodado com ela. Talvez ele esteja bem do jeito que é…

Então, antes de qualquer conclusão, vale uma conversa entre vocês para saber como anda a autoestima dele. Nem sempre pessoas introvertidas se sentem mal por serem como são. Muitas vezes, o fato de serem mais observadores do que falantes, lhes traz uma sensação de proteção e bem-estar. Se esse for o caso dele, pergunte-se se você é capaz de aceitá-lo do jeito que ele é. Porque se não for, não faz sentido esperar de alguém, que se sente bem com suas características pessoais, que mude só para agradar outra pessoa.

Uma pessoa tímida não vai virar alguém falante

Certamente existem pessoas que são tímidas e recalcadas, aquelas que gostariam de se expor mais, mas não têm coragem; aquelas que apresentam uma baixa autoestima e acham que não têm algo importante para dizer. Essas sim, são pessoas para quem uma psicoterapia pode ajudar bastante. Se esse for o caso de seu namorado, vale a pena tentar. Mas, sendo realista, mesmo trabalhada em terapia, uma pessoa tímida não vai virar alguém muito falante.

Assim, mesmo nesse caso, verifique qual é a sua disponibilidade para conviver com alguém que não se expõe muito socialmente; alguém que não usa as palavras para manifestar seu afeto ou suas ideias, principalmente quando está em grupo; alguém que não se tornará, provavelmente, o “ queridinho” da família e dos amigos.
     
Diante dessa realidade, tente avaliar quais as características dessa pessoa que atraíram você. Pelo que relata, ele é uma pessoa cujo apoio emocional se dá mais pelo lado do “estar junto” e acreditar que os problemas se solucionarão, do que propor mil ideias ou soluções fictícias quando você está perdida num problema pessoal. Quando ele diz: “vai ficar tudo bem, fique calma” cabe a você escolher ficar decepcionada por esperar dele uma participação verbal num problema seu, ou aceitar o apoio emocional que ele propõe nas poucas palavras que ele emite. 

Você pode fazer essa troca verbal com outras pessoas

Se para você é importante a troca verbal de ideias e você quer alguém com quem possa discutir e argumentar, tente encontrar essa parceria em amigas, colegas, professores… Enfim, pessoas que gostam de se expressar verbalmente. Porque esse namorado, provavelmente, não será o parceiro ideal para esse jogo. Mas pode ser um ótimo parceiro e cúmplice para um relacionamento tranquilo, seguro e estável.

Nesse tipo de relação você, provavelmente, assumirá o papel de voz e, às vezes, de porta-voz. Nesse tipo de relação muitas vezes, provavelmente, vocês ficarão um ao lado do outro em silêncio, cada um fazendo suas coisas; nesse tipo de relação, muitas vezes, a comunicação se dará por um olhar, um sorriso, ou uma cara fechada. E socialmente ele estará ao seu lado apenas. Talvez, com o tempo e com a inserção dele na família, ele se torne um pouco mais participativo. Mas sempre haverá o primo falante que o calará nas primeiras palavras. E ele, provavelmente, não lutará pelo protagonismo. Porque pessoas introvertidas não se esgoelam para falar mais alto assim que alguém as corta. Elas apenas se calam, ficam na sua. Sofrem? Nem sempre. Aprendem bastante com o que ouvem e esse aprendizado, em geral, será usado em situações em que forem úteis. Pessoas introvertidas podem surpreender. E muito.

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Como se dá uma escolha amorosa

As escolhas amorosas certamente levam em conta uma lista de características que nem sempre são conscientes. Se a introversão de seu namorado soa, no momento, como uma característica negativa para você, avalie quais são as características positivas. Ele é uma pessoa que você admira? Ele te trata bem? É um bom parceiro para o lazer? Sim, se as qualidades, mesmo as que você ainda não conhece, superarem os defeitos vale a pena tentar.

Agora se o “defeito” citado por você for insuportável aos seus olhos, reavalie a relação. Afinal, você é livre para escolher seu par. Tente apenas não fazer como tantas mulheres que acham que depois do casamento, conseguirão transformar magicamente seus parceiros no príncipe encantado. Não conseguirão.

A harmonia de um relacionamento está fortemente vinculada à aceitação mútua de características pessoais que se farão presente desde os primeiros encontros. Cabe a cada um avaliar e imaginar como será o convívio com elas. E evitar fazer do relacionamento um projeto de moldagem da “pessoa ideal”. Ela pode virar um monstro. Que o diga Frankenstein.

Atenção!
Esta resposta (texto) não substitui uma consulta ou acompanhamento de uma psicóloga e não se caracteriza como sendo um atendimento.

É psicóloga graduada pela PUC/SP. É psicoterapeuta de adultos e adolescentes em consultório particular desde 1975 até a presente data. É coach em saúde mental. Vya Estelar quer colocar você, querido leitor(a), ainda mais pertinho de nós. A psicóloga Anette Lewin responderá perguntas enviadas por você sobre relacionamento amoroso, conflitos na vida a dois e conjugal. Esta resposta possui dois formatos: 1º formato: responder as perguntas enviadas por você; 2º) formato: extrair uma palavra em específico de uma pergunta que você enviou (ex: traição). E partir desta palavra, revelar o significado do que sentimos ao nos relacionar. Seu nome e e-mail serão preservados.